No século IV, chamava Maria de o “Novo Éden de Deus”, ou seja, o jardim onde Deus fez sua Santa morada na terra. Na visão patrística, a Santa Virgem é, sem dúvida alguma, o novo paraíso de Deus, onde Deus derramou suas delicias de forma tão extraordinária e grandiosa. Maria é também a nova arca que carregou não apenas as tabuas da lei, mas o próprio Deus humanado, a própria lei do amor feito carne.
A solenidade da Imaculada Conceição, celebrada no início do Advento, nos prepara para viver o mistério da redenção de forma grandiosa. A vida de Maria está associada ao mistério todo da redenção, a solenidade de hoje está entrelaçada com todo o mistério do Advento e do Natal do Senhor. Nada em Maria é destacada da vida de Cristo. Maria é a nova Eva, Mãe da Igreja e do novo povo de Deus que, dando ouvido à Palavra do Senhor, gerou Deus e venceu a antiga serpente do mal.
Com toda a Igreja de Deus no orbe da Terra, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, uma das quatro verdades de fé a respeito da Virgem Maria. A Imaculada Conceição não é simplesmente um belo título Mariano ou devocional. Ele é um dogma de fé, ou seja, uma verdade incontestável de fé, baseada na Palavra de Deus, no magistério e na tradição ao longo dos séculos. Cremos e confessamos que a Virgem Maria, Mãe de Nosso Grande Deus e Senhor Jesus Cristo, foi concebida sem a mancha do pecado original. Foi preservada de todo pecado. Maria Santíssima por graça de Deus foi preservada da mancha do pecado original em vista e pelos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Solenidade da Imaculada Conceição
Na visão dos Santos Padres, a Virgem é modelo por excelência da Igreja, Ela é espelho daquilo que seremos um dia. Ela é visão escatológica daquilo que seremos. Ela é a “formosura de toda formosura”, ou, como nos diz o Cântico dos Cânticos 4,1, “Tu és bela, minha querida, tu és formosa!”. E, com toda a Igreja, cantamos a cada ano os seus louvores: afirmando que “Tota pulchra es Maria”, toda bela és, Maria. A beleza de Maria se encontra no coração que em tudo fez a vontade de Deus, um coração vazio de si mesma e cheio, tomado, transbordante da Palavra de Deus. A beleza de Maria está neste fazer em tudo a vontade de Deus, no seu fiat se esconde seu segredo. No coração de Maria não teve espaço para nada que não fosse Deus. Jacinta, a pequena pastorinha de Fátima, ao ver aquela bela Senhora, em 1917, na azinheira, não cansava de repetir ao voltar para casa, após tão maravilhoso encontro, “Que Senhora tão linda, ai que Senhora tão linda, que Senhora tão linda que vi hoje”. Em Maria se encontra a beleza de Deus!
No dia 08 de Dezembro de 1854, a Igreja proclamou solenemente a doutrina acerca da Concepção Imaculada de Maria. Antes da igreja proclamar um dogma, o povo já vivia o dogma, não ainda de forma solene, é claro, pois, solene mente só a partir de 1854, com a proclamação, após consultar os bispos e ao vencer várias disputas como aquela do Beato Dans Scoto, em Paris, que defendia de forma genial a doutrina da Imaculada tão defendida e difundida pelos Franciscanos. Desde o início do cristianismo, Maria já era venerada como “A Toda Santa”. O Oriente a chama de a “Panaghia” “a Toda santa” e o Ocidente “A Imaculada”. Por ser toda Santa e por causa dos méritos de Cristo, Maria foi preservada de toda mancha do pecado. Chamar a Nossa Senhora de Imaculada Conceição é dizer que Ela foi concebida no ventre de Ana sem o pecado, ou seja, santa desde a sua conceição, santa na sua concepção, desde o seu primeiro instante de existência.
Deus, em seus desígnios de amor, colocou no ventre de Ana a sua mão e não permitiu que o germe do pecado atingisse aquela que seria sua mãe. Como nos diz, de forma bela, Padre Antônio Vieira, em um de seus sermões: “Senhora preservada do cativeiro do pecado de Adão por valor, e virtude do mesmo sangue”. Ou seja, Maria é preservada em vista dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Imaculada Conceição representa a obra de arte da Redenção realizada em Cristo, porque, precisamente, o poder do seu amor e da sua mediação obteve que a Mãe fosse preservada do pecado original no primeiro instante de sua existência. Portanto, Maria está totalmente redimida por Cristo, mas já antes da sua concepção.
Ofício da Imaculada Conceição
Também, de forma clara e bela, Santo Anselmo coloca em evidência a grandeza do mistério da conceição de Nossa Senhora: a sua preservação do pecado para se tornar Mãe do Salvador e, como consequência, nossa Mãe. Na página dos seus “discursos”, no Ofício das leituras de 08 de dezembro, se lê: “A Maria, Deus deu o seu único Filho que havia gerado do seu seio igual a si mesmo e que amava como si mesmo, e de Maria plasmou o Filho, não um outro, mas o mesmo, de modo que segundo a natureza fosse o único e o mesmo filho comum de Deus e de Maria […] E enquanto pode criar todas as coisas do nada, após a sua ruína não poderia recuperá-los sem Maria”. O seu privilégio é para nós ocasião de esperança. Em sua maternidade, Maria doa a nós o Salvador.
Portanto, concluímos fazendo menção ao antigo testamento quando vemos Deus pedir que se faça a arca da aliança e a revista com ouro puro. Maria é, sem duvida, o ouro puro de Deus. Se, para a arca, precisava-se do melhor ouro, imagine que, para sua mãe, não poderia ser qualquer uma, como muitos sem instrução afirmam. Como nos diz São Luís de Montfort, Maria é o ajuntamento das graças de Deus. Em Maria, filha de Sião, está o ouro fino de Deus, “Aquele que os céus não puderam conter, ela o carregou em seu seio”.
E com o grande poeta e filósofo alemão, Novalis, queremos também nós afirmar: “Vejo-te em mil pinturas, tão encantadoramente representada Maria. E ainda assim, nenhuma dessas pinturas chega perto de retrata-La como minha alma A vê. Só sei que, desde que a vi pela primeira vez, o tumulto do mundo esvaneceu como um sonho. E um céu indescritivelmente doce habita eternamente em meu espírito”.
Rezemos com as palavras que o Papa Pio XII se dirigiu a Maria, na ocasião do primeiro centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição. “Toda bela és, ó Maria! Tu glória, Tu alegria, Tu honra do nosso povo!”.
Por: Gilberto e Nilza Maia
Fonte: Canção Nova Formações.