No final da Audiência Geral, o Papa anunciou que em setembro próximo publicará um texto magisterial sobre “esse culto carregado de beleza espiritual”, para que ilumine o caminho de renovação da Igreja e da humanidade.
Um novo documento sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, para meditar sobre os aspectos “do amor do Senhor que podem iluminar o caminho da renovação eclesial; mas também dizer algo significativo a um mundo que parece ter perdido o coração”.
Foi o que o Papa Francisco anunciou no final da Audiência Geral, desta quarta-feira (05/06), em suas saudações aos fiéis italianos, e manifestou sua intenção de torná-lo público em setembro, enquanto estão em andamento as celebrações para o 350º aniversário da primeira manifestação do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, em 1673. As celebrações foram abertas em 27 de dezembro de 2023 e serão encerradas em 27 de junho de 2025.
Estou feliz por preparar um documento que reúne as preciosas reflexões de textos magisteriais anteriores e uma longa história que remonta às Sagradas Escrituras, para propor novamente hoje, a toda a Igreja, este culto carregado de beleza espiritual.
As origens da devoção ao Sagrado Coração de Jesus
A iconografia retrata o Sagrado Coração de Jesus com Cristo coroado de espinhos, na cruz e ferido pela lança, como uma eterna lembrança do maior gesto que Ele fez por nós: sacrificar sua própria vida pela salvação da humanidade. Por fim, cercado por chamas que simbolizam o ardor misericordioso que Cristo sente pelos pecadores. Os primeiros vestígios de devoção ao Sagrado Coração de Jesus podem ser encontrados já na Idade Média, no pensamento de místicos alemães como Matilde de Magdeburg, Matilde de Hackeborn e Gertrude de Helfta e o beato dominicano Henrique Suso. Entretanto, esse culto só alcançou grande florescimento no século XV por meio do trabalho de Santa Margarida Alacoque e São João Eudes, o primeiro a quem o bispo de Rennes concedeu permissão para celebrar uma festa em honra ao Coração de Jesus em sua comunidade em 1672. Em 1765, Clemente XIII concedeu à Polônia e à Arquiconfraria Romana do Sagrado Coração a possibilidade de celebrar a festa do Sagrado Coração de Jesus e foi nesse século que se desenvolveu um debate acalorado. A Congregação dos Ritos, de fato, afirma que o objeto desse culto é o coração de carne de Jesus, símbolo de seu amor, mas os jansenistas interpretam isso como um ato de idolatria. Foi somente em 1856, com Pio IX, que a solenidade foi estendida à Igreja universal e incluída no calendário litúrgico.
Santa Margarida Alacoque: mensageira do Coração de Jesus
Margarida Alacoque é uma religiosa da Ordem da Visitação de Santa Maria que viveu no convento francês de Paray-le-Monial, no Loire, desde 1671. Ela já tinha fama de ser uma grande mística quando, em 27 de dezembro de 1673, recebeu a primeira visita de Jesus, que a convidou para ocupar o lugar de João, o apóstolo que fisicamente descansou a cabeça no peito de Jesus, na Última Ceia. “O meu coração divino está tão apaixonado pelo amor à humanidade que, como não pode mais conter dentro de si as chamas de sua ardente caridade, precisa espalhá-las. Eu a escolhi para esse grande plano”, diz ele a ela. No ano seguinte, Margarida tem mais duas visões: na primeira, há o coração de Jesus em um trono de chamas, mais brilhante do que o sol e mais transparente do que o cristal, cercado por uma coroa de espinhos; na outra, ela vê Cristo resplandecente de glória, com o peito de onde saem chamas por todos os lados, de tal forma que parece uma fornalha. Nesse momento, Jesus pede que ela comungue toda primeira sexta-feira por nove meses consecutivos e que se prostre no chão por uma hora na noite entre quinta e sexta-feira. Assim nasceram as práticas das nove sextas-feiras e a Hora Santa de Adoração. Depois, em uma quarta visão, Cristo pede a instituição de uma festa para honrar o seu Coração e reparar, por meio da oração, as ofensas que recebeu.