O triunfo do Imaculado Coração de Maria depende de nossa conversão pessoal e de uma vida íntima de oração com Deus.
Apesar de todas as más notícias dos últimos anos, a esperança nas promessas da Senhora de Fátima permite-nos saborear a paz dos santos mesmo nos momentos de amargura. A paz que muitos procuram atualmente é uma paz de ordem material e imediata, que não exige sacrifícios nem renúncias.
Que o Coração Imaculado de Maria triunfe sobre todo mal. É isso o que deseja qualquer católico. Todavia, a mensagem de Fátima não diz respeito somente a uma vitória de Nossa Senhora sobre as hostes infernais. Para que essa vitória ocorra, explica a Virgem, o homem deve voltar-se para o mundo interior, numa verdadeira atitude de conversão, e parar de ofender a Deus com seus pecados. Deve, aliás, rezar diariamente o santo terço e fazer as comunhões reparadoras aos cinco primeiros sábados. Em suma, a humanidade tem de procurar viver para o Céu, cumprindo as suas promessas batismais. Essas são as condições para que o mal caia e o bem triunfe.
Uma meditação sincera sobre tais pedidos da Virgem leva-nos a concluir que sua mensagem não é um conjunto de previsões sobre um futuro sombrio, como poderiam pensar alguns curiosos; ela é uma “exortação à oração como caminho para a ‘salvação das almas'”, um caminho que se faz também pela penitência e pela conversão [1]. E talvez seja por isso que as aparições de Fátima despertam tanto incômodo em alguns ambientes, pois falam de uma realidade que já não parece tão interessante, uma realidade aparentemente já superada, a saber, a “salvação das almas”. Infelizmente, é preciso reconhecer que a paz que muitos procuram atualmente é uma paz de ordem material e imediata, que não exige sacrifícios nem renúncias. Mas esse tipo de paz definitivamente não é a paz cristã, tampouco é a paz pregada pela Virgem Maria aos três pastorinhos.
De fato, nenhuma paz é verdadeira se não nasce de uma entrega essencialmente amorosa. Quem vive buscando o bem-estar neste mundo acaba provocando o mal-estar próprio e de seus irmãos, já que uma vida cujo objetivo final não é o Céu torna-se, aos poucos, um projeto em que o pecado não é só uma opção, mas um caminho. Isso pode ser visto no dia a dia de qualquer pessoa.
“Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”. Ao atenderem a esse convite da Virgem Maria, Lúcia, Jacinta e Francisco anteciparam em suas vidas aquele “triunfo” do qual falávamos anteriormente. Eles ofertaram-se amorosamente em sacrifício de expiação pela conversão dos pecadores. Neste sentido, a paz se tornou uma realidade tanto para eles quanto para aqueles que eram objetos de sua caridade ardente. Nós precisamente fomos beneficiados com o amor dessas crianças, que hoje intercedem do Céu por nós. É assim que devem triunfar os Corações de Jesus e de Maria. Trata-se do cumprimento daquilo que dizia São Pedro em uma de suas cartas: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados” (1 Pe 4, 8).
Eis, então, as três condições para o triunfo do Imaculado Coração de Maria: oração, penitência e apostolado. Uma é necessariamente consequência da outra. Quem reza, ou seja, tem intimidade com a pessoa de Cristo, vai querer mudar seu estilo de vida e, por meio dessa mudança, conquistará outros para o caminho de Jesus. Mas tudo começa com a oração, momento em que o homem se desarma perante Deus e coloca-se à sua escuta. A oração é um diálogo com Deus, “é a hora das intimidades santas e das resoluções firmes” [2].
A oração, por outro lado, não é simplesmente um palavreado piedoso. Como explicou Bento XVI certa vez, “sabemos que a oração não se deve dar por certa: é preciso aprender a rezar, quase adquirindo esta arte sempre de novo” [3]. Isso nos ensina também o exemplo dos santos, sobretudo dos três videntes de Fátima, que tiveram de entrar na “escola da oração”, cuja professora era a própria Virgem Maria. Eles aprenderam a guardar o próprio coração das perturbações do mundo para ouvirem a voz suave de Deus, que se escuta na brisa. Quiçá nós também tenhamos essa vigilância, “uma vigilância interior do coração que, na maior parte do tempo, não possuímos por causa da forte pressão das realidades externas e das imagens e preocupações que enchem a alma” [4].
“Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!”, lamentou-se Jesus sobre Jerusalém (Lc 19, 42). Em verdade, esse lamento também está sobre nós que, buscando a paz fora da oração, refugiamo-nos em falsos acordos e falsas seguranças. Mas, em Fátima, Maria nos mostrou mais uma vez o caminho para a paz. Aproveitemos, portanto, a grande oportunidade deste Ano Mariano para redescobrirmos os frutos da oração cristã e, assim, apressarmos “o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima” [5].