Está sendo provado? Volte os olhos para o Céu!

Santo Hipólito, oficial da escolta do Imperador Décio, nascera nas trevas da idolatria, mas junto com toda a sua família tornou-se cristão depois de ter presenciado, na prisão que estava sob seu encargo, numerosos milagres operados por São Lourenço. Também esteve presente quando o santo, deitado na grelha em brasa, suportou os mais terríveis suplícios.

Naquele momento, diante do heroísmo de São Lourenço, Hipólito sentiu o desejo de denunciar a si mesmo como cristão, mas foi dissuadido pelo santo diácono que agonizava. Quando, porém, o mártir terminou gloriosamente seu combate, Hipólito, com a ajuda de um sacerdote chamado Justino, enterrou seus sagrados restos mortais com grande devoção e veneração. O imperador, ao tomar conhecimento disto, mandou prender o oficial e levá-lo à sua presença. Perguntou-lhe se era verdade que havia se tornado cristão, ao que o prisioneiro respondeu com firmeza: “Sim, sou cristão e, além disso, estou decidido a morrer como tal!” Mas o imperador, que sempre o estimara muito, tentou, primeiro com promessas e depois com ameaças, induzi-lo a renunciar a Cristo. Frustradas todas as tentativas, no entanto, ordenou enfim que o torturassem.

Hipólito então foi estendido no chão, terrivelmente chicoteado com flagelos e espancado com paus, a ponto de acharem que não conseguiria sobreviver. Deus, porém, por um milagre visível, prolongou-lhe a vida. Mantendo os olhos fixos no Céu, o santo repetia frequentemente: “Sou cristão, sofro por amor a Cristo.” Depois de ter sido atormentado durante muito tempo, foi lançado na prisão, e o prefeito recebeu a ordem de decapitá-lo. Antes de executá-la, porém, foi à casa de Hipólito para se apoderar de seus bens. Chegando lá, ao descobrir que toda a família do prisioneiro havia se tornado cristã, levou-os para além das portas da cidade e mandou decapitá-los.

Concórdia, uma velha e santa governanta, que tinha sido ama de Hipólito, foi açoitada até a morte, porque encorajava os outros a permanecer firmes na fé. Por fim, Hipólito foi tirado da prisão e atado à traseira de dois cavalos, sendo arrastado por eles até o esquartejamento. Assim, sua alma heroica entrou na presença daquele que confessara com tanta coragem. 

No mesmo dia, embora em outro lugar, São Cassiano sofreu um martírio de crueldade sem precedentes. Este santo era bispo de Bréscia, mas havia sido banido de sua diocese por causa de sua fé. Pretendia ir a Roma e oferecer ao Papa seus serviços para a salvação das almas em algum outro lugar. Durante o percurso, porém, mudou de ideia e, fixando residência em Ímola, uma cidade italiana, resolveu alfabetizar as crianças, esperando que não lhe faltassem ocasiões para fazer o bem.

Nesta posição aparentemente humilde, não foi menos zeloso do que havia sido na administração de sua diocese. Ensinava as crianças com amor e mansidão, e esforçava-se por inspirar-lhes respeito à fé cristã, medo e horror ao pecado, e amor à virtude e à piedade. Exerceu esta atividade com grande zelo durante alguns anos, para grande benefício de jovens e idosos, quando subitamente desencadeou-se uma terrível perseguição aos cristãos.

Cassiano foi um dos primeiros a ser feito prisioneiro. O tirano ordenou-lhe que sacrificasse aos deuses, mas o santo bispo e mestre recusou, como seria de esperar, e tentou mostrar ao juiz sua terrível cegueira ao adorar ídolos tolos ou transformar homens ímpios em deuses. O tirano, furioso com os argumentos, ordenou aos carrascos que tirassem a roupa do prisioneiro, amarrassem as suas mãos atrás das costas e o deixassem exposto à mercê das crianças que ele tanto se esforçara por ensinar.

De fato, os algozes disseram às crianças que Cassiano era um mágico e por isso devia morrer de forma muito dolorosa. Então, as crianças pegaram seus lápis de ferro afiados, com os quais escreviam em suas tábuas de cera, e perfuraram-no até que o sangue corresse profusamente de suas veias. Este suplício durou muito tempo e foi extremamente doloroso. O santo, porém, não se queixou em momento algum da ingratidão de seus alunos, nem deu sinal de impaciência, mas louvou e agradeceu ao Senhor até que sua alma subiu ao Céu para receber a coroa do martírio.

Considerações práticas   

I. Santo Hipólito voltou os olhos para o Céu durante o seu martírio. Fizeram o mesmo muitos mártires, em seus sofrimentos, e muitos santos, em suas doenças e adversidades. Com isso, queriam mostrar que suportavam as dores por amor a Deus. Lembravam-se também da recompensa que esperavam receber por seus sofrimentos, e assim sentiam-se encorajados. 

Faça o mesmo em todas as suas tristezas, preocupações e aflições, e mostre, assim, que suportará tudo por amor a Deus. Clame ao Todo-Poderoso por força e ajuda. Pense na grande recompensa. Desta forma, você terá forças para suportar tudo com paciência e até mesmo com alegria. Nenhum trabalho, dor ou preocupação lhe será demasiado difícil de suportar, nem durará mais do que você possa aguentar, se erguer os olhos ao Céu, principalmente se considerar que seu trabalho, suas preocupações e dores são muito breves em comparação com o descanso eterno. 

“Erguei os olhos para o alto durante o vosso trabalho”, diz Santo Efrém, “e não considerareis nada difícil ao contemplar as alegrias celestes”. “O sofrimento atual”, diz Santo Tomás de Vilanova, “é apenas um instante se comparado às alegrias celestes. O que nos magoa passa rápido, mas o que recebemos como recompensa permanece por toda a eternidade”.

II. São Cassiano esforçava-se particularmente por incutir três pontos morais na mente de seus alunos: estima pela verdadeira féhorror ao pecado e amor à virtude e à piedade. Oxalá todos os pais e professores procurassem inculcar profundamente tais sentimentos no coração de seus filhos e alunos! Como nossa juventude seria diferente! 

No entanto, esses pontos devem ser recomendados à consideração também dos que não são mais jovens:

Seja você quem for, estime a verdadeira fé acima de todas as coisas, pois é uma graça inestimável que o Todo-Poderoso, não permitindo que você nascesse na idolatria ou em uma falsa religião, tenha lhe concedido aquela fé sem a qual não é possível salvar-se. 

Tema e abomine o pecado acima de qualquer outro mal, pois ele pode causar-lhe mais danos do que todos os outros. Só o pecado pode torná-lo eternamente infeliz. 

Enfim, ame a virtude e a piedade, pois segundo o Apóstolo, “a piedade para tudo é útil” (1Tm 4, 8). Sem virtude, não podemos ir para o Céu. Escreve São Bernardo: “Em vão deseja obter as glórias celestiais quem não é adornado com a virtude, que é o caminho para a glória. Por meio dela alcançamos a honra e a alegria eternas”.


Fonte:
Pe. Franz X. Weninger, S.J.
Tradução: Equipe Christo Nihil Præponere
Referências
  • Extraído, traduzido e adaptado passim de Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 200ss.