Enquanto rezava, Gutierrez sentiu-se inspirado a fazer uma novena para Frassati.

Um seminarista não imaginava que ao se machucar jogando basquete em 2017, que um dia isso contribuiria para a causa de canonização do beato Pier Giorgio Frassati.

O padre Juan Gutierrez, de 38 anos de idade, então seminarista no seminário St. John em Camarillo, na Califórnia, EUA, rompeu o tendão de Aquiles no jogo. Preocupado com a recuperação e as despesas, Gutierrez à capela do seminário no dia seguinte “com o coração pesado”.

Enquanto rezava, Gutierrez sentiu-se inspirado a fazer uma novena para Frassati. Poucos dias depois da novena, Gutierrez foi à capela para rezar quando não havia ninguém lá. Enquanto orava, ele lembrou-se de sentir uma sensação incomum ao redor do pé machucado.

“Eu estava rezando e comecei a sentir calor ao redor da área do meu ferimento. E honestamente pensei que talvez algo estivesse pegando fogo, debaixo dos bancos”, disse ontem (16) Gutierrez em entrevista coletiva na paróquia St. John the Baptist, no condado de Los Angeles, onde ele agora é padre associado.

Gutierrez procurou se havia fogo, mas não viu nenhum, mesmo que ainda sentisse a sensação de calor em seu ferimento. O seminarista lembrou-se de suas experiências com o movimento da renovação carismática de que o calor pode ser associado à cura de Deus. Ele olhou para o sacrário, chorando.

“Aquele evento me tocou profundamente”, disse Gutierrez.

 

Gutierrez não foi só tocado espiritualmente, mas também foi curado fisicamente. Ele conseguiu andar normalmente de novo e não precisou mais de um suporte. Quando Gutierrez visitou o cirurgião ortopédico, o cirurgião confirmou que ele não precisava de cirurgia. O rompimento que antes aparecia em uma ressonância magnética sumiu, algo inédito com esse tipo de lesão, disse-lhe o cirurgião.

“A cura dele foi um milagre. Os médicos não conseguiram explicar”, disse o arcebispo de Los Angeles, dom José Gómez. “Claro, milagre é uma palavra que é usada em excesso em nossa cultura; isso não é bem compreendido. Mas as Escrituras nos dizem que Jesus fez milagres na Terra… E acreditamos que Jesus continua a fazer milagres do Céu”.

“E acreditamos que Jesus ouve não só nossas orações, mas também as orações que os santos fazem por nós. Agora temos um novo santo que cuida de nós do Céu”, disse dom Gómez.

Gutierrez disse que sua cura “nos lembra que a oração funciona”.

“Os santos podem nos ajudar a rezar por nossas necessidades e que haja alguém ouvindo nossas orações. Deus está sempre ouvindo nossas orações”, disse Gutierrez.

A confirmação do cirurgião foi o início de uma investigação da Santa Sé sobre o milagre que levou à canonização de Frassati.

Dom Robert Sarno, membro aposentado do dicastério para as Causas dos Santos da Santa Sé, disse estar admirado por “como tudo isso aconteceu”, ao dizer que houve muitas conexões estranhas que levaram a tudo isso se encaixar. Depois de se aposentar do dicastério para as Causas dos Santos, Sarno estava dando uma aula sobre causas de canonização no seminário St. John em Camarillo, onde conheceu ninguém menos que Gutierrez. O seminarista abordou Sarno fora da aula uma vez e lhe contou sobre a cura que experimentou.

“Quando ouvi isso, imediatamente suspeitei que poderia haver alguma substância neste caso”, disse Sarno na entrevista coletiva, ao falar de forma remota de Nova York.

Com a aprovação da Santa Sé e de dom Gómez, Sarno começou a investigação canônica sobre a cura. Só falta o passo final — uma “consulta final” de cardeais e bispos com o papa para aprovar ou desaprovar a canonização. Sarno disse que “em um caso como esse, é realmente uma formalidade”.

Sarno disse também que Frassati é um exemplo para os jovens.

“O que somos chamados a fazer é imitar a santidade de Pier Giorgio e rezar por sua intercessão, especialmente pelos jovens que estão tão confusos hoje e buscam respostas para a vida e para a fé”, disse Sarno.

Um amigo no céu

Dom Gómez disse que Frassati é “um santo para os nossos tempos”. Frassati nasceu em uma família italiana rica, mas tinha um coração para os pobres e a Eucaristia. Ele era conhecido por seu bom humor e amor por caminhadas.

“Ele era um jovem que amava a vida e a aproveitava ao máximo”, disse o arcebispo. “Ele era um bom amigo para os outros, um bom filho e um bom irmão. E ele era um homem de profunda oração que nos ensinou a encontrar Jesus na sagrada Eucaristia e no rosto dos pobres”.

Frassati será canonizado no ano que vem, 100 anos depois de sua morte por poliomielite, aos 24 anos, em 1925.

“Algumas de suas últimas palavras foram essas: ‘Esperarei por todos eles no céu’ ”, disse dom Gómez. “Estou confiante de que, por meio dessas orações, Nosso Senhor levará muitos a segui-lo até lá”.

Gutierrez disse não saber por que foi escolhido para isso.

“Serei o primeiro a reconhecer que Deus poderia ter escolhido uma pessoa mais carismática, tranquila e menos problemática. Confie em mim, eu sei, e meus colegas poderão lhe dizer o quão verdadeiro isso é”, disse Gutierrez.

“Mas, como a Escritura nos diz, não fomos nós que escolhemos o Senhor. Foi ele quem nos escolheu. E ele nos escolheu para dar frutos”.

Gutierrez falou sobre os eventos que se seguiram à cura como uma “montanha-russa” de “excitação, antecipação, trepidação e até mesmo medo”.

“Houve momentos que me deixaram pensando, como vim parar aqui? E o que eu estava pensando quando entrei nessa viagem?”, disse Gutierrez. “Mas no final do dia, fico com o coração cheio de gratidão e admiração pelo que Deus faz em nossas vidas”.

“E também fiquei honrado pelo fato de que em Pier Giorgio, Deus me deu não só um intercessor, mas também um amigo”.

“Há muitas similaridades entre Pier Giorgio Frassati e Juan, quer ele saiba ou não”, disse Sarno. “Ambos eram muito atléticos, muito jovens e envolvidos em esportes. E por essa razão, Pier Giorgio Frassati foi declarado um dos patronos da Jornada Mundial da Juventude”.

Wanda Gawronska, sobrinha de Frassati, falou na conferência sobre sua empolgação de que seu tio será “finalmente” canonizado no ano que vem. Gawronska falou sobre os desafios que sua mãe enfrentou ao defender sua canonização a partir do início da década de 1930.

Gawronska leu um trecho de uma carta que Frassati escreveu 100 anos atrás, em 16 de dezembro de 1924, só seis meses antes de morrer.

“Espero, com a graça de Deus, continuar no caminho das ideias católicas e ser capaz de um dia, em qualquer estado que Deus quiser, defender e propagar essas coisas raras e verdadeiras”, escreveu Frassati.

Respondendo a um aluno da escola paroquial que participava da conferência sobre como se sentia por fazer parte do processo de canonização, Gutierrez disse: “É uma loucura. Mas é uma bênção maravilhosa”.

“Giorgio queria espalhar a fé em Deus, e isso vai permitir que mais pessoas ouçam sua mensagem que nos convida a levar nossa fé cristã católica a sério e a estar dispostos a levá-la para fora das portas da Igreja para influenciar a vida da sociedade — porque é aí que o amor de Deus, Jesus e o que ele nos trouxe são tão desesperadamente necessários”, concluiu Gutierrez.


Informações de Kate Quiñones é redatora da Catholic News Agency