Uma prática antiga da Igreja, voltada para o culto divino, é o canto de hinos e salmos. Desde os tempos mais remotos os monges se dedicaram ao canto litúrgico, complementando sua vida muitas vezes árdua. As horas passadas no coro eram conciliadas com o trabalho necessário para suprir as suas necessidades materiais.
O autor francês Dr. Alfred Tomatis, especialista em otorrinolaringologia, conta a fascinante história de como descobriu o “segredo” do vigor dos monges em meio à sua rigorosa rotina.
Um determinado mosteiro francês seguia por séculos a regra de São Bento — o que implicava várias horas de canto por dia. Após o Concílio Vaticano II, na década de 1960, os monges mudaram suas práticas centenárias. Pararam de cantar em latim e optaram por seguir cantando em língua vernácula. Não entrando porém num acordo sobre como fazê-lo, decidiram substituir o canto por ministérios mais atuais e “pastorais”, digamos assim, alinhados com as reformas em voga. Ou seja, pararam de cantar em absoluto.
A nova rotina teve consequências significativas. Durante séculos, os beneditinos prosperaram com poucas horas de sono. Agora, porém, estavam fatigados e apáticos. Mesmo dormindo mais horas por noite, o cansaço era constante.
Mudou-se então a dieta vegetariana de séculos por uma que incluísse carne, na esperança de dar a eles mais energia. Mesmo assim, a saúde dos monges não melhorou. Parecia impossível encontrar a causa dos problemas, e as soluções propostas só pareciam piorar o caso.
Foi então que o Dr. Tomatis visitou o mosteiro, para testar a audição dos monges. Qual não foi sua surpresa ao ver que muitos deles sofriam de problemas auditivos. Ao examinar a sequência de mudanças ocorridas, a conclusão foi que a única mudança ligada à audição era a interrupção da salmodia coral.
O médico recomendou a retomada do canto, para ver se haveria alguma melhora na saúde comum.
Restituída a antiga rotina monacal de cantar as horas do Ofício Divino, experimentou-se uma transformação surpreendente. A maioria dos monges recuperou a energia e conseguiu trabalhar de novo com poucas horas de sono. E a nova dieta foi dispensada. O canto gregoriano foi suficiente para resolver-lhes os problemas de saúde.
Em entrevista concedida a uma estação de rádio canadense, o Dr. Tomatis explicou o que havia acontecido do seu ponto de vista profissional. Durante muito tempo ele estudou os efeitos dos sons e das frequências numa pessoa. E disse que o córtex cerebral pode ficar “carregado” ou positivamente estimulado por sons como o canto gregoriano.
Portanto, segundo ele, as sessões diárias de canto davam energia ao corpo e à mente dos monges. A regularidade e os ritmos dos cantos têm um impacto que ordena o monge e permite-lhe fazer coisas extraordinárias.
É claro que os efeitos físicos da música são apenas uma parte da história. Não deixa de ser, no entanto, uma parte fascinante, num mundo incrédulo que só sabe dar valor a benefícios de natureza material. Outros especialistas também estudaram os efeitos do canto e descobriram que ele pode reduzir a pressão arterial e ajudar a diminuir a ansiedade e a depressão.
Todavia, o cerne da questão é o impacto espiritual do canto sobre a alma.
Essa música é sobrenatural, pois eleva a pessoa ao Céu e às coisas divinas. Sua beleza enche as almas de admiração e amor a Deus. Quando as práticas da fé colocam a alma em ordem, o corpo naturalmente se ordena.
A verdadeira conclusão dessa história toda não é como o canto gregoriano pode beneficiar a saúde. É que pôr a alma em ordem deve ser a nossa prioridade absoluta. Feito isso, tudo o mais se encaixa no devido lugar.



