Conversão e Preparação para o Natal!

O Advento é, por excelência, o tempo da esperança, o tempo de preparação para receber o Salvador. É tempo de conversão! Nele, procuramos despertar nossos corações, a fim de que, enquanto nos preparamos para celebrar o fato do Natal do Senhor, reacendamos a expectativa de sua vinda gloriosa, no final dos tempos. Daí o convite de João Batista a todos:
“Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). O tempo é agora: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!” (Mt 3,3). O Senhor veio no passado, vem no presente e virá no futuro. Ele abraça todas as dimensões do tempo. A esperança verdadeira e segura, certa e confiável está fundamentada na fé. Sem esperança, não há nada depois da morte, ou nada que valha a pena. Quando falta Deus, falta esperança e tudo perde sua consistência, seu significado. Há uma meta: o encontro definitivo com o Senhor. Procuremos preparar o coração para acolher o Salvador que virá para nos mostrar a sua misericórdia.
Preparai um caminho ao Senhor: trata-se da pregação evangélica e de uma nova consolação, com o desejo de que a salvação de Deus chegue ao conhecimento de todos os homens.
João Batista prega a conversão, que significa colocar os passos nos passos de Jesus. E isto é um aspecto que caracteriza a vida cristã inteira. Quando acontece erro, um extravio, cumpre reconhecer o erro, dispondo-se a receber o dom de Deus, que perdoa sempre, que é infinitamente misericordioso e oferece a cura espiritual no Sacramento da Confissão.
Converter-se é renascer continuamente para a vida ressuscitada com Cristo. A existência do cristão deve ser uma conversão contínua. Não é somente purificar-se do estado de pecado, mas também progredir sempre. Ensina São Paulo: “Nós vos pedimos e exortamos, no Senhor
Jesus, que progridais no modo de proceder para agradar a Deus. Continuai progredindo cada vez mais” (1Ts 4,1). O cristão convertido sabe que é um peregrino, como ser que vive debaixo da tenda em condição provisória, como pessoa que jaz sob a lei fundamental de uma mudança, sempre mais profunda em busca de santificação pessoal.
João foi chamado o Profeta do Altíssimo, porque sua a missão foi ir à frente do Senhor para preparar os seus caminhos, ensinando a ciência da Salvação a seu povo. João não desempenhará essa missão à procura de uma realização pessoal, mas concentrando-se em preparar para o Senhor um povo perfeito. Não se dedicará a ela por gosto pessoal, mas por ter sido concebido para isso. E irá realizá-la até o fim, até dar a vida no cumprimento da sua vocação.
Foram muitos os que conheceram Jesus graças ao trabalho apostólico do Batista. Os primeiros discípulos seguiram Jesus por indicação expressa dele, e muitos outros se preparam interiormente para segui-Lo graças à sua pregação.
Diz João: “Eu sou a voz que clama no deserto: Preparai os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas” (Mt 3,3). Ele não é mais do que a voz, a voz que anuncia Jesus. Essa é a sua missão, a sua vida, a sua personalidade. Todo o seu ser está definido em função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer cristão. O importante da nossa vida é Jesus.
João Batista indica-nos também o caminho que devemos seguir. Na ação apostólica pessoal – enquanto preparamos os nossos amigos para que encontrem o Senhor –, devemos procurar não ser o centro. O importante é que Cristo seja anunciado, conhecido e amado. Uma preocupação de singularidade, a ânsia de sermos protagonistas, não deixaria lugar para Jesus.
Sem humildade, não poderíamos aproximar os nossos amigos de Deus. E, então, a nossa vida ficaria vazia.
São Gregório Magno comenta que João Batista “prega a fé reta e as boas obras… para que a força da graça penetre, a luz da verdade resplandeça, os caminhos para Deus se endireitem e surjam no ânimo pensamentos honestos, depois da escuta da Palavra que guia para o bem”.
No tempo do Advento, também nós somos chamados a ouvir a voz de Deus, que ressoa no deserto do mundo através das Sagradas Escrituras, sobretudo quando são pregadas com a força do Espírito Santo. De fato, quanto mais a fé se deixa iluminar pela Palavra divina, tanto mais se fortalece, por “tudo o que – como nos recorda São Paulo – foi escrito antes de nós… por nossa instrução, porque, em virtude da perseverança e do conforto que provêm das Escrituras, mantemos viva a esperança” (Rm 15,4). O modelo de escuta é a Virgem Maria:
“contemplando na Mãe de Deus uma existência totalmente modelada pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no Mistério da Fé, mediante a qual vem habitar na nossa vida. Cada cristão que crê, recorda-nos Santo Agostinho, num certo sentido concebe e gera o Verbo de Deus” (Exort. Ap. pós-sinodal Verbum Domini,28).
Hoje, nós não podemos esquecer que somos testemunhas de Cristo. Nós somos testemunhas, mas que tipo de testemunhas? Como é o nosso testemunho cristão entre os nossos colegas, na família? Tem força suficiente para persuadir os que ainda não creem em Jesus, os que não o amam, os que têm uma ideia falsa a seu respeito? São perguntas que poderiam ajudar-nos a viver este Advento, um tempo a que não pode faltar a dimensão apostólica.
Temos que dar testemunho e, ao mesmo tempo, apontar aos outros o caminho. Diz São Josemaria Escrivá: “Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunhas de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima. Temos que conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão, porque não odeia, porque sabe compreender, porque não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama” (É Cristo que passa, nº 122).
O mundo não se abriu nem converteu ainda ao Evangelho. Por isso, soa ainda hoje, e mais atual do que nunca, a voz de João Batista que ecoa no Advento: “Arrependei-vos…” (Mt 3,2).
Olhemos em direção ao Menino Deus que está para chegar! Hoje, o mundo, muitas vezes, olha em outra direção, donde não virá ninguém. Muitos se acham debruçados sobre os bens materiais como se fossem o seu fim último; mas com eles jamais satisfarão seu coração. Temos que apontar-lhes o caminho, a todos.
Não é possível acolher “Aquele que vem, “ se o nosso coração estiver cheio de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preocupação com os bens materiais. Não bastam aparências, apenas de que somos cristãos, porque recebemos o Batismo. A conversão deve ser comprovada pela ação.
Quando Jesus nasce, os anjos cantam: paz na terra. Não é desejo ou conselho, mas um fato. Jesus diz: “deixo-vos a paz, a minha paz vos dou”. A partir de Jesus, a paz, se não é uma realidade generalizada, é uma possibilidade real e acessível aos de boa vontade. A paz que o mundo não pode dar, tirar ou impedir.

Santo Agostinho dizia: paz é a tranquilidade da ordem. Ordem entre nós e Deus, entre nós e o próximo, entre a razão e os instintos dentro de nós. Paz é harmonia, fruto do Espírito Santo. A paz interior, do coração, é a única que pode favorecer a outra paz, a exterior. A paz interior é condição e raiz da paz exterior. A paz total, interna e externa, é uma meta, somente em plenitude, quando Jesus voltar para instaurar novos céus e nova terra. Enquanto isso, a receita verdadeira da paz está contida no Evangelho: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está
próximo”. E é necessário produzir frutos que provem a vossa conversão.
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde  houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver desespero que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz. Que eu procure mais consolar que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado.
Sim, Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz!
“A nossa salvação baseia-se numa vinda”, escreveu Romano Guardini. E, continua Guardini: “O Salvador veio da liberdade de Deus… Assim a decisão da fé consiste… em acolher Aquele que se aproxima. O Redentor vem junto de cada homem: nas suas alegrias, nos seus conhecimentos claros, nas suas perplexidades e tentações, em tudo o que constitui a sua natureza e a sua vida”.
À Virgem Maria, em cujo seio habitou o Filho do Altíssimo, pedimos que nos ampare, neste caminho espiritual, para acolher com fé e com amor a vinda do Salvador.
Quais os caminhos tortos que devemos endireitar? Quais os frutos de conversão que Deus está esperando de nós, neste Advento, em preparação ao Natal?


Autor: Dom José Maria Pereira