Nosso Senhor Jesus Cristo com a obra da Redenção inaugurou um novo sentido para os eventos da tradição judaica. Foi assim com o mistério da Páscoa, que para os judeus tinham um significado e com Cristo tornou-se a festa da Ressurreição e foi assim também com a festa de Pentecostes. Este evento histórico já existia. Tratava-se da celebração do quinquagésimo dia após a Páscoa em que Israel celebrava a aliança com Deus no Sinai. Por causa do acontecimento pentecostal em Jerusalém com os apóstolos, tornou-se para nós cristãos a festa do Espírito Santo.
Não são eventos antagônicos. Eles se complementam, pois o Espírito Santo, conforme a promessa do profeta Ezequiel, é aquele que seria derramado sobre o povo, e os fariam capazes de obedecer às leis e os mandamentos do Senhor, transformando os seus corações. Então, se por um lado Pentecostes para Israel era a celebração da lei do Senhor dada no monte Sinai, por outro lado, Pentecostes para nós cristãos é a vinda do Espírito Santo para nos fazer capazes de viver esta lei em sua totalidade. De fato, é através da ação do Espírito que ao homem foi dada a possibilidade do cumprimento perfeito da vontade de Deus.
Desta forma, o evento de Pentecostes celebra a aliança de Deus com o seu povo através do derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja. Neste dia é revelada plenamente a Santíssima Trindade. Por sua vinda – e ela não cessa -, o Espírito Santo faz o mundo entrar nos “últimos tempos”, o tempo da Igreja, o Reino já recebido em herança, mas ainda não consumado.
A missão do Espírito Santo, portanto, é completar a obra de Cristo. O próprio Cristo delegou por motivos imperscrutáveis, ao Espírito Santo essa missão. De fato, é Ele quem “nos revela Jesus”, “convence-nos do pecado”, “nos dá testemunho de Jesus”, “capacita-nos a testemunhá-lo”, e “nos recorda tudo o que Ele disse”. (Cf. Jo 14; 15; 16; At 1).
O Papa João Paulo II em seu pontificado na Encíclica Dominum et Vivificantem, sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo nos exortou dizendo que a Igreja desde o seu início proclamou sua fé no Espírito Santo, como aquele que dá a vida, aquele no qual o imperscrutável Deus uno e trino se comunica aos homens, constituindo neles a nascente da vida eterna. Ele dizia ainda que esta fé professada ininterruptamente pela Igreja, precisa ser incessantemente reavivada e aprofundada na consciência do povo de Deus.
A providencia divina afim de tornar o Espírito Santo mais conhecido e amado em nossos tempos suscitou na Igreja no último século uma grande corrente de graças, denominada Renovação Carismática Católica. De fato, temos assistido um verdadeiro despertar das consciências para o operar do Espírito Santo na vida pessoal e consequentemente interferindo na vida da Igreja. Um dos frutos maduros desta experiência, é sem dúvida, o surgimento das Novas Comunidades Carismáticas. Nós, Comunidade Católica Presença, nascemos desta experiência pentecostal, através do Batismo no Espírito Santo. Nossa espiritualidade e missão são conduzidas a partir deste mover do Espírito Santo.
De fato, o Espírito Santo forma comunidades. Entre as inúmeras obras Dele está a de nos inserir na própria vida da Santíssima Trindade. A vida trinitária é constituída de amor. Deus é amor (I Jo 4, 8.16). E o amor é o primeiro dom. Este amor foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5,5). Sendo assim, uma vez que somos inseridos nesta vida sobrenatural, somos chamados a amar como a Trindade. Este amor, a caridade, é o principio da vida nova em Cristo, possibilitada pelo fato de termos “recebido uma força, a do Espírito Santo.” (At 1,8)
Por isso é notável que um dos primeiros efeitos de Pentecostes é a formação de novas comunidades. Os Atos dos Apóstolos nos oferecem um testemunho desta realidade quando narra a experiência das primeiras comunidades cristãs. Eles tinham tudo em comum, ou seja, viviam o amor dado a eles na efusão do Espírito Santo. Em nosso tempo isso não é diferente. Depois do grande despertar das consciências para o poder do Espírito Santo nos últimos tempos, houve este florescer dos novos carismas comunitários com o desejo de manifestar ao mundo a graça de Pentecostes.
O Espírito Santo continua sendo derramado sobre nós. Hoje é Pentecostes. Nos abramos a sua ação, que ele fará de nós suas testemunhas. O Papa Paulo VI, numa de suas exortações nos disse: “Já nos perguntamos, muitas vezes, quais são as maiores necessidades da Igreja. Que necessidade julgamos a primeira e última para nossa abençoada Igreja? Devemos dizer, com a alma trepidante e absorta na oração, que a Igreja tem necessidade do Espírito Santo, que é seu mistério, sua vida. A Igreja tem necessidade de seu perene Pentecostes; tem necessidade de fogo no coração, de palavra nos lábios, de profecia no olhar; mais do que nunca, a Igreja e o mundo precisam que o milagre de Pentecostes continue na história.” Por isso não cessemos de clamar: Vem Espírito Santo”.
Tiago Borges
Diácono Comunidade Católica Presença