A força do jejum e da oração na superação da violência

O Papa Francisco convocou para esta sexta-feira, 23, este Dia de Oração e Jejum pela paz, de sobremaneira pelo Sudão do Sul, pela República Democrática do Congo, mas também pela Síria e poderíamos incluir todos os países onde existem conflitos. E esta, aliás, não é a primeira vez durante o seu pontificado que o Papa promove uma iniciativa do gênero. Seria quase um apelo em uma situação extrema? O mundo vive uma situação de emergência neste sentido?

“Sim, com certeza! E os últimos acontecimentos internacionais e as provocações levam a uma situação que hoje se pode considerar de instabilidade, porque não há uma segurança nas relações internacionais. A situação da Turquia e da Síria e tudo aquilo que está se passando na África, é realmente uma situação muito preocupante e também a situação da política armamentista, e digamos uma espécie de reinício de corrida armamentista. Isto obviamente não faz bem para as relações internacionais e tampouco para a paz”.

Na sua opinião, de que maneira o jejum e a oração podem influir positivamente neste contexto?

“Nós temos alguns exemplos muito significativos. Talvez o que marcou muito o século XX foi a atividade de Gandhi, que sempre insistiu na questão do jejum como uma forma de as pessoas mesmo se prepararem e se dedicarem para a paz.

A oração, nós temos o caso da Alemanha Oriental, em que durante muitos anos na igreja de São Nicolau, em Leipzig, se faziam nas segundas-feiras as orações às cinco horas da tarde, e isso foi o que deu assim a força para o movimento de 1989 poder ir para as ruas e terminar com o Muro de Berlim.

Então uma espiritualidade decisiva é sempre uma espécie de fonte de irradiação, mesmo que ela não seja levada eventualmente por motivações extraordinárias, mas ela consegue despertar no ser humano e pela afinidade com os desígnios de Deus, a disposição para se colocar a caminho da paz.

Então a oração é sem dúvida nenhuma um sinal, uma força muito grande para a paz, e também forma as consciências. E o jejum como exercício de autodomínio e também de exercício de solidariedade. Porque a violência é uma reação natural, quando não se tem uma alternativa cultural melhor. Então a violência brota, por assim dizer, aquilo como uma primeira reação à violência. Violência gera violência, a não ser que haja uma transformação da instintividade da reação violenta, por uma atitude de solidariedade, de paz, de compreensão e de acolhida e de tolerância, em resistência.

Quero apenas reforçar ou aceitar o desafio que o Papa nos faz de sermos testemunhas da paz, de nos engajarmos na oração e no jejum. Tentar fazer em todos ambientes onde nós estamos, aquilo que estiver ao nosso alcance. E podermos em outras atividades que fazemos, seja na sociedade civil, seja em nossas atividades acadêmicas, seja em atividades pastorais, de evangelização, de liturgia, que nós possamos testemunhar e buscar aprofundar isto.

Nós aqui no Brasil, em particular, temos muito a ver, e trabalhar e buscar em favor da superação da violência. Somos um dos países com o mais alto índice de violência no mundo e matamos por ano diretamente mais de 60 mil pessoas.

Então temos uma gravíssima responsabilidade como Igreja Católica no Brasil em buscarmos caminhos sérios de superação das condições que causam a própria violência em que se mata tanta gente, como estamos vivendo.

Então, quero sim me unir profundamente à oração pela paz e pela superação da violência e sei também da grande dor que reina na África, com acampamentos na ordem de 60 mil pessoas, refugiados, e tudo aquilo que acontece na Europa e também aqui estamos vivendo o problema da Venezuela, os venezuelanos que vem entrando em grande número.

Então, orar, rezar por isso, convocar as pessoas para isso, e ao mesmo tempo fazer o nosso jejum, no sentido de superar os nossos próprios impulsos e tendências à violência. E esse acho que é o sentido deste chamado do Papa.

E a Campanha da Fraternidade no Brasil vem à propósito: Fraternidade e a superação da violência é o tema, pois todos somos irmãos e irmãs”.

Fonte: Vatican News