A sublimidade da vocação é a força com que se vive

Não sei quando foi instituído no Brasil o mês de agosto como mês vocacional, mas, sem dúvida, foi uma iniciativa maravilhosa, como também o foi a da Campanha da Fraternidade. Necessitamos rezar pelas vocações, mas é muito mais urgente sermos um sinal vivo da alegria da vocação.

Nestes dias, pensava comigo mesmo “há uma vocação mais importante e uma menos importante?” Não foi necessário fazer uma larga e longa pesquisa e nem incomodar o doutor Google, para dar uma resposta a esta pergunta. Todas as vocações são importantes da mesma maneira. Quem dá importância à vocação é a pessoa humana que a recebe e a assume com amor, vivendo sua vida a serviço de Deus e dos outros.

A sublimidade da vocação é a força com que se vive, o amor com que se serve. A Igreja insiste em dizer que todos os cristãos, pela força do primeiro Batismo, são chamados a ser santos. Esta é a vocação à qual ninguém pode renunciar. Toda pessoa recebe de Deus uma missão, e para segui-la deve fazer um sério discernimento.

Uma coisa é o trabalho que desempenhamos para sobreviver e para ter o que comer, o que vestir, onde viver, e outra coisa é a vocação. A falta de discernimento provoca tantas tristezas na vida, seja no matrimônio, seja na vida religiosa, no sacerdócio, na vida de médico ou de pedreiro. Infelizmente, fala-se de discernimento só para a vida religiosa e sacerdotal e pouco do discernimento para as outras vocações.

Transformar o trabalho em vocação

Teresa do Menino Jesus, na História de uma Alma, manuscrito B, conta que se sentiu perdida, e não via claro o porquê de sua vocação, do seu chamado. Não desanimou e procurou buscar na Palavra de Deus uma resposta que lhe desse paz e sossego. Encontrou-a na Carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, capítulo 12: a Igreja é um corpo e se é um corpo, deve ter um coração e, então, encontrei a resposta para a minha vocação: ser o amor e sendo o amor vou conseguir realizar em mim todas as vocações.

É importante transformar o nosso trabalho em vocação. Pelo Batismo, em todos os trabalhos realizamos a nossa missão de evangelizadores. Somos missionários não porque somos consagrados na vida religiosa, ou em uma comunidade. O cristão jamais pode deixar de ser de Cristo e como tal anunciador do Evangelho.

Todas as vocações comportam momentos de imensa alegria e de grande sofrimento, a Cruz é o que consagra a nossa vocação.

Reunir o povo

Para compreender este texto do profeta Isaías, devemos ler todo o seu livro. Este profeta tem a vocação de reunir, de infundir esperança em todos os desanimados de Israel, mas esta vocação não é somente dele, mas também de cada um de nós. Devemos, pois, vivê-la com entusiasmo e com amor, mesmo quando a cruz se faz presente, ou quando somos rejeitados pelos que não creem.
Quem não constrói a unidade, a paz, a justiça, não pode ser de Deus. Na pessoa do profeta, é o mesmo Deus que vem, é Ele que reúne. São belíssimas as palavras com que se fecha este texto: “Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor” (Is 66,21).

É no meio do povo que Deus escolhe os Seus sacerdotes, os Seus profetas, os Seus amigos. A pluralidade das vocações é uma riqueza que nos deixa de boca aberta. Seria muito triste um mundo onde todos tivessem a mesma vocação e exercitassem o mesmo trabalho. A diversidade é riqueza e devemos saber respeitá-la. A única vocação comum, mas também vivida da própria maneira e segundo o projeto de Deus, é a santidade. Ninguém é chamado para não ser santo.

A correção nunca é agradável

Gosto muito da Carta aos Hebreus, especialmente dos capítulos 11 e 12, nos quais encontro tanta bondade de Deus no cântico da fé. É belo ver como tantos de nossos irmãos, em todas as épocas, tiveram a capacidade de dar testemunho, com a própria vida, da própria fé. E o autor, no início do capítulo 12, nos recorda que não devemos desanimar, porque estamos circundados de pessoas que são corajosas e de fé, e o centro da nossa fé é a pessoa de Jesus, que é, ao mesmo tempo, autor da fé e Aquele que tem alimentado a própria vida com fé. Nada mais belo que ter fé, que não depende de nós, mas é um dom de Deus.

Mas o pequeno trecho de hoje da Carta aos Hebreus tem um sabor da ternura do Pai, que nos corrige com força e com amor. Nenhuma correção é agradável, sentimos vergonha, sentimos que somos humilhados pelos nosso erros, mas por que somos corrigidos? Porque Deus nos ama. Toda correção é sinal de amor, e não um prêmio. Qual é finalidade da correção? Ela nos redobra o entusiasmo e nos dá força no caminho. “Portanto, ‘firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés’, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado.” (Hb 12,12-13)

A porta é estreita

O Evangelho em plena sintonia com as outras leituras – que nos falam de correção e do sofrimento do povo que, por sua vez, deve se converter para poder ser o povo de Deus – nos fala que a porta para entrar e para construir o reino de Deus é estreita. Por que? Minha mãe Domenica dizia “não se vai ao paraíso de avião ou de carroça de luxo, mas a pé, com sacrifício e renúncia.” O paraíso é dom de Deus para aqueles que O amam, mas ao mesmo tempo é conquista, fruto da luta, e do autodomínio. Se descobrimos que somos pecadores, devemos nos converter, deixar o caminho do mal e tomar o do bem.

Diante da palavra de Deus de hoje, não é difícil compreender que, quando amamos de verdade, estamos dispostos a fazer todos os sacrifícios.

Não serve nos declararmos cristãos e não vivermos como cristãos. Jesus não nos reconhecerá como Seus discípulos. Poderemos bater à porta, mas ela não se abrirá. Poderemos chamar, mas não haverá resposta. Só o amor nos torna dignos do céu.

Escola de oração

“O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor. O mundo não quer chorar: prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. Gastam-se muitas energias para escapar das situações onde está presente o sofrimento, julgando que é possível dissimular a realidade, onde nunca, nunca, pode faltar a cruz.” (Gaudete et Exsultate, 75)

A partir das palavras do Papa Francisco, vemos a necessidade cristã de não fechar os olhos para os problemas, de animar o irmão no sofrimento, sem dele fugir, de corrigir fraternalmente o nosso próximo, porque desejamos para nós e para a nossa família o céu. Sabemos, pois, que a porta é estreita e que o caminho até lá não é fácil, mas apoiados uns nos outros, alcançaremos a santidade.

Fonte:https://www.comshalom.org