Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A Quaresma é um tempo especial de preparação espiritual para a celebração da Páscoa do Senhor Jesus. A Igreja, ciente da sua missão de zelar pela vida espiritual de seus filhos e filhas, nos oferece, através da palavra de Deus e do Sacramento da Reconciliação, um itinerário de formação espiritual, para que possamos participar intensamente deste tempo de graça e de conversão, em que o coração tocado pela misericórdia do Pai se abre para estender a mão em direção aos irmãos e irmãs necessitados, num gesto generoso de solidariedade, que expressa amor ao próximo.
No caminho espiritual de “conversão” do cristão está presente o deserto, símbolo da aridez, das tentações, das provações, do despojamento e da purificação. Mas o deserto, visto como o lugar de provação física, na Bíblia, é também lembrado como o lugar da purificação, da escuta e do encontro com Deus. Portanto, a Quaresma deveria ser na vida do cristão o tempo do silêncio, da escuta, da reflexão e do discernimento. Não o silêncio visto como fuga da realidade da vida, buscando um mundo paralelo e mais fácil. Mas o silêncio que busca contemplar o rosto transfigurado de Jesus Cristo, sobre o qual resplandece a luz divina do Pai.
No peregrinar da vida, e de modo especial neste tempo da Quaresma, não devemos esquecer que o rosto transfigurado de Cristo está presente hoje no rosto desfigurado do pobre, do enfermo, do prisioneiro, do imigrante, dos idosos, dos jovens que tinham sonhos em relação ao futuro, mas perderam a esperança e o encanto pela vida. E nós somos chamados a testemunhar, através da nossa fé, traduzida em obras de caridade, o rosto da bondade e da compaixão de Jesus, porque diante do amor e da misericórdia do Pai, somos filhos e filhas e deveríamos viver como irmãos e irmãs.
Na realidade em que vivemos é fundamental fazermos e incentivarmos as pessoas a fazerem uma experiência de Deus. Mas de qual Deus? Eu diria do Deus de Jesus Cristo. Um Deus que é pai, próximo e humilde, que é capaz de compreender o homem na sua dimensão humana e divina, marcada pelo amor, a alegria e as provações, nos acontecimentos do dia-a-dia. Um Deus pai, que por amor vai ao encontro dos seus filhos e filhas, vê a dor e o sofrimento provocados pela falta de amor, que gera injustiças e desfigura o rosto de Deus, nos irmãos e irmãs.
Pode acontecer que percorrendo um caminho de crescimento espiritual, que nos leva ao fortalecimento da nossa fé e ao encontro do Pai, podemos até desanimar, e, ser tentados a dizer como Filipe: “Senhor mostra-nos o Pai e isso nos basta” (Jo 14,8). Para Filipe, conhecer o Pai era o suficiente, não percebia que ao ver e contemplar o filho Jesus, estava vendo e contemplando o rosto da misericórdia do Pai.
Autor: Dom José Gislon – Bispo de Caxias do Sul (RS)
Fonte: CNBB