ADENTRANDO O MISTÉRIO

A Festa da Exaltação da Santa Cruz, surge na Igreja em 13 de setembro de 335 d.C. A referida Festa tem em seus primórdios ligação com o aniversário de dedicação de duas basílicas, uma, que havia sido construída sobre o Gólgota [1]e outra, que havia sido construída sobre o Santo Sepulcro. É importante destacarmos, que a cruz em si, até 320 d.C, foi usada pelo Império Romano como um instrumento para castigar os piores criminosos, portanto, se tratava de um instrumento de cruel punição, um meio de executar os malfeitores mais perigosos e odiados segundo as leis do império da época.

Já para os judeus, quem morria na cruz era um almodiçoado, um castigado, um abandonado por Deus, em suma, alguém a quem Deus havia virado as costas. É a partir desse contexto, que podemos entender melhor a afirmação de São Paulo, quando diz: “… os judeus pedem sinais, e os gregos andam em busca de sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus…” (1 Cor 1, 22-24).Pois bem, foi essa transformação que Cristo realizou ao aceitar passar pela cruz e nela realizar o sublime Ato Redentor. As palavras de São Paulo, citadas acima, mostram que o ressignificado que Cristo dar com seu sacrifício e sua ressurreição a cruz, foi por iluminação divina, assimilado pelos primeiros cristãos. Contudo, essa nova forma de interpretar e encarar a cruz, não estava destinada apenas para o pequeno grupo de cristãos da Igreja primitiva, mas tal mistério deveria manifestar o fulgor do seu esplendor a todos os povos e nações.

Os primeiros frutos desse desígnio salvífico universal, começam à aparecer quando a mãe do imperador Constantino, Santa Helena, se converte a fé cristã e manda procurar as relíquias da Santa Cruz a qual havia pendido o salvador do mundo. Posteriormente, o próprio imperador Constantino, homem mais poderoso do mundo naquela época, influenciado pelo testemunho de sua piedosa mãe e iluminado pela graça divina, se torna cristão. No ano 320 da era cristã, o referido imperador, inspiradamente e sabiamente, proibi o uso da cruz como instrumento de punição no Império Romano. Assim, mais um passo é dado, para que a cruz, que outrora, havia sido instrumento da mais severa, cruel e humilhante punição, se tornasse agora o sinal máximo e supremo da redenção!  A marca definitiva do amor sobre a dor, da justiça divina sobre o pecado, da salvação sobre a condenação, do bem sobre o mal! A partir desse momento, a cruz é associada exclusivamente ao sacrifício redentor de nosso salvador Jesus Cristo e aquilo que o homem até então, tinha criado para aprisionar, Deus tornou instrumento de libertação, o que homem havia criado para matar, Deus fez instrumento de salvação e vida, o que homem criou para flagelar, Deus se serviu para amar e amar de maneira incondicional, absoluta, incontestável e eterna!

PERMITINDO QUE O MISTÉRIO TOQUE NOSSAS VIDAS

 Mediante tão grandioso, sublime e inesgotável mistério, nossa pobre inteligência e limitado entendimento, só pode ter uma atitude, reverência! Em nossos sentimentos, deve sobre sair, um, a gratidão! Todavia, ao meditar sobre tal mistério, é preciso deixar com que este nos ilumine, nos fortaleça, mediante a algumas situações, que porventura podemos estar vivenciando.

Para isso, gostaria de recorrer as leituras da Liturgia que nos são dadas nesta Festa da Exaltação da Santa Cruz.  Perceba, a 1° Leitura do livro dos Números, 21,4-9, mostra que o povo ao caminhar pelo deserto, voltando a terra prometida, começa a IMPACIENTAR-SE. Como consequência disso, começam a serem picados por serpentes venenosas. A cura vem por meio de uma serpente de bronze, que Deus manda Moisés fazer e colocar no alto de um poste.  Sendo que todo aquele que olhasse para a serpente de bronze, ficaria curado. Tal episódio é tido como uma prefiguração do Sacrifício Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo, como podemos perceber no evangelho de São João 3, 13-17, no seu versículo 14, que afirma: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos o que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna.” Ou seja, nesta nossa caminhada, nesta peregrinação, buscando o céu, muitas vezes, nós também NOS IMPACIENTAMOS, com as dificuldades, problemas, enfermidades, demoras e tantas outras cruzes, contudo a liturgia vem exatamente nos mostrar a saída. Olhe para Cristo! E Cristo crucificado! O crucificado que também é o Ressuscitado! Portanto, independente do seu sofrimento, da cruz que te impacienta, olhe para Cristo! Mas, olhe com os olhos da alma! Olhe como o coração! Contemple o mistério da força salvífica da cruz! Não desista da vida! Não entregue os pontos! Não desista da salvação! Recorde-se que o seu sofrimento pode ser unido a cruz de Cristo. Cristo pode trazer sentido salvífico a ele. Todo sofrimento, se vivido em Cristo, pode devolver nós, a Deus, e nós, a nós mesmos. A Deus, porque, podem nos levar a rezar mais, a buscar de maneira mais intensa e sincera a presença do Senhor. E a nós mesmos, porque nos fazem mais humanos, maduros, mais compassivos para com o sofrimento do outro. Portanto, o sofrimento vivido em Cristo, é algo redentor, santificador e humanizador. Sendo assim, nos esforcemos para rezar mais e nos revoltarmos menos, louvarmos mais, reclamarmos menos. Não tente encontrar tanto os “porquês”, mas foque mais em entender o “para que”. Lembre-se, há sofrimentos que são inevitáveis, isto é, não dependem de os escolhermos, ou não, contudo, mediante os mesmos, podemos escolher como passar por eles e disso depende nossa salvação, pois uma situação, pode nos fazer mais de Deus e mais parecido com Ele, ou pode, ser vivida fechada a Deus, nos deixando amargurados e fechados em nós mesmos, portanto, abramo-nos a Cristo, abramo-nos a sua vitória, a força redentora de sua Cruz gloriosa! Que Assim Seja! Deus te abençoe!

[1] Nome do lugar no qual foi crucificado Jesus.

Pe. Bruno Oliveira
Sacerdote da Comunidade Presença