Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi coroada pelo Papa Pio X em 8 de dezembro de 1904, data do cinquentenário da proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, nesta data ela recebeu o título de Rainha do Brasil, a coroa utilizada foi a mesma doada pela princesa Isabel em 1884. E desde 1930 Nossa Senhora Aparecida é a Padroeira do Brasil, oficializado pelo Papa Pio XI, sua festa litúrgica é comemorada dia 12 de outubro, pois é uma data aproximada do encontro da imagem, a data escolhida coincide também com o dia da chegada dos Espanhóis à América em 1492 e com o dia das Crianças, esta data é feriado nacional em comemoração ao dia da Padroeira.
A devoção a Nossa Senhora da Conceição é um legado da colonização portuguesa, que desde a colonização, ergueram muitas ermidas, capelas e igrejas dedicadas a Imaculada Conceição de Maria, além de inúmeros oratórios domésticos nas casas e fazendas, principalmente após Dom João IV, Rei de Portugal e de seus domínios ultramarinos, proclamar Nossa Senhora da Conceição como a padroeira de todo Reino ao qual na época o Brasil fazia parte. Assim o Rei além de promover as festas com muita honraria no dia 8 de dezembro de cada ano, também encomendou a feitura de muitas imagens, espalhando-se assim por todo o território “…Há grande procura de imagens para os oratórios domésticos, capelas e igrejas de sítios, fazendas e bairros. Muitas procediam de Santana de Parnaíba, do santeiro beneditino Frei Agostinho de Jesus.” 1 e provavelmente foi uma destas imagens que por algum motivo, foi parar nas águas do Rio Paraíba do Sul, e que depois de alguns anos submersa, foi pescada milagrosamente por três pescadores, no local onde hoje ao redor se desenvolveu a cidade de Aparecida.
A Pesca Milagrosa
Em outubro de 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal, que depois ficou conhecido como
Conde de Assumar, foi nomeado para assumir o governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, em sua viagem histórica de São Paulo a Minas Gerais logo após sua posse, passou pela Villa de Santo Antônio de Guaratinguetá, sendo assim alguns dias antes de sua chegada, vários pescadores foram incumbidos da tarefa de pescar e conseguir alimento para a comitiva, pois corria se o risco dele chegar em uma sexta-feira, dia de abstinência de carne, dentre estes pescadores estavam Domingos Martins Garcia, João Alves e Filipe Pedroso.
Os três pescadores saíram com suas canoas do porto da fazenda do capitão José Corrêa Leite, dono de terras e escravos na Vila de Pindamonhangaba, a mesma fazenda onde existia uma capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário, depois de passarem o dia inteiro lançando suas redes sem sucesso na pescaria, ao final da tarde quando os três estavam nas proximidades do Porto de Itaguaçu, a uns seis quilômetros de onde partiram, João Alves puxou a rede, e nela estava presa o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, depois lançou novamente, e desta vez o que veio foi a cabeça da mesma imagem. O relato que temos da pesca milagrosa foi escrito quatro décadas após o acontecimento pelo Pároco de Guaratinguetá José Alves Vilella, baseado no relato de um outro Padre mestre em Teologia, João de Morais e Aguiar, “e continuando a pescaria, não tendo apanhado peixe algum, dali por diante, foi tão copiosa e abundante a pescaria, que receoso (Filipe Pedroso) e os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, se retiraram às suas vivendas (às suas casas), admirados do sucesso” 2.
O Milagre das Velas –
Depois da pesca, a imagem da Santa, segundo o relato escrito pelo Capitão-Mor Antônio José dos Santos que se baseou na tradição oral da época, diz que “(João) Alves, chegando à sua casa, entregou a Santa à sua mãe pedindo que a adorasse, porque ela tinha feito um grande milagre” 3 . Assim, Silvana, primeiramente em casa, depois em uma simples capela feita no Porto Itaguaçu, começou a reunir seus familiares e vizinhos todos os sábados para rezarem o terço e cumprir as demais devoções à Mãe de Deus. Segundo relato do Padre José Alves Vilella assim aconteceu :
“em uma destas ocasiões, apagaram-se duas luzes (velas) de cera da terra repentinamente que alumiavam a Senhora, estando a noite serena, e querendo Silvana da Rocha acender as luzes apagadas também se viram logo de repente acesas sem intervir diligência alguma, sendo este o primeiro prodígio” 4 .
A cura da menina Cega
No local onde hoje está construída a atual Basílica Velha, no Morro dos Coqueiros, existia uma igreja primitiva construída para abrigar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, ela ficava no caminho que liga o Rio de Janeiro a São Paulo e muito próxima da Estrada Real, que na época era um importante e movimentado caminho usado para escoar a produção de ouro e outras mercadorias de Minas até os Portos de Paraty e do Rio de Janeiro, sendo assim muitos tropeiros e viajantes passavam e tomavam conhecimento da imagem de Nossa Senhora e dos relatos dos muitos milagres atribuídos à intercessão de Nossa Senhora e a devoção foi se espalhando por todo o Brasil, assim começou as romarias, muitas pessoas começaram peregrinar até Aparecida para pedir e para agradecer por muitas Graças. Uma dessas devotas foi uma menina cega, de nome Marcelina, da cidade de Jaboticabal, que tomou conhecimento da imagem de Nossa Senhora Aparecida pelo relato de um tio que era tropeiro e passou por Aparecida, e ficou sabendo dos fatos milagrosos, a menina ficou muito entusiasmada com os relatos do tio Malaquias e pediu a mãe Dona Gertrudes Soares Vaz que a levasse até Aparecida. A mãe concordou, assim no ano de 1874, as duas partiram de sua casa e depois de vários meses caminhando, chegaram a um ponto onde dava para ver a Capela de nossa Senhora Aparecida, nesse mesmo momento a menina voltou a enxergar, e mãe e filhas continuaram o caminho e chegaram até a imagem em agradecimento a Nossa Senhora pela graça recebida. Mãe e filha voltando para casa trouxeram uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e com a ajuda dos vizinhos construíram uma capela no local próximo de onde moravam, hoje no mesmo local em Jaboticabal, está construído um Santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida.
A quebra das correntes
Um dos quatro primeiro milagres reconhecidos e atribuídos a Nossa Senhora Aparecida é a libertação de um escravo, mas existem muitas versões e não se sabe precisar em que ano realmente ocorreu, a tradição oral e escrita mais famosa do milagre diz que o nome do escravo era Zacarias, ele teria fugido de uma fazenda de Curitiba e estava escondido em Bananal, quando foi encontrado, o capanga do fazendeiro foi buscá-lo, passando por Aparecida, o escravo pediu permissão para parar e rezar diante da imagem, ouviu-se um estrondo e quando todos correram para ver o que havia acontecido encontraram Zacarias de joelhos diante da imagem e as correntes quebradas no chão. Conta-se ainda que o escravo recebeu a liberdade e ficou trabalhando para a igreja.
Casa da Mãe Aparecida
Hoje a imagem original de Nossa Senhora Aparecida, encontrada no rio Paraíba do Sul em 1717, fica no Santuário Nacional, no Morro das Pitas, em Aparecida, a mesma igreja
recebeu o título de Basílica Menor. Todos os anos milhões de romeiros visitam o Santuário, alguns a pé, outros de bicicleta, a cavalo, ônibus e os mais variados meios de transporte e deixam aos pés da Santa seus pedidos e principalmente agradecimentos. O santuário de Aparecida é um local de acolhida, de encontro e de recomeços e são muitos os relatos de graças alcançadas e conversão, um local santo, onde Deus opera milagres pelas mãos de Nossa Senhora.
André Luís Fernandes Crupelati
Missionário Comunidade Católica Presença
Referências:
1 BRUSTOLONI, Padre Júlio J.. História de Nossa Senhora da Conceição Aparecida: a
imagem, o santuário e as romarias. Aparecida/SP: Editora Santuário, 1998.
2 Ibidem: 1
3 ALVAREZ, Rodrigo. Aparecida: Edição ampliada e ilustrada. Rio de Janeiro/RJ: Leya,
2017.
4 Ibidem: 1