“Abriu-se o templo de Deus no céu e apareceu, no seu templo, a arca do seu testamento. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e forte saraiva” (Ap 11, 19). A liturgia da solenidade da Assunção nos apresenta o trecho da Apocalipse em que João vê a glória da Mulher vestida de Sol, mas antes de tudo ele contempla a arca da aliança, pois esta Mulher é, de fato, Nossa Senhora, Arca da Nova Aliança.
Na Antiga Arca se encontravam as coisas mais importantes: as Tábuas da Aliança, o maná e o báculo florido de Arão. Os três, de fato, representam, juntos, Jesus. Ele é a Lei, não somente porque com o Pai e o Espírito Santo é o Deus que falou com Moisés a quem entregou as tábuas dos mandamentos, mas porque Ele mesmo assumindo a nossa natureza se torna na sua própria divina Pessoa, Regra de vida.
Jesus é o alimento com o Seu Corpo e Sangue que se entrega a nós para ser Pão da Vida eterna. Jesus é o Sumo Sacerdote que governa a Sua Igreja até o fim do mundo. Do sacerdócio de Cristo todos os cristãos participam ou com o sacerdócio comum dos batizados ou, para aqueles que são chamados, com o sacerdócio ministerial também.
Tudo isso se realiza no Senhor pela Sua própria humanidade, aquela humanidade que Maria assumiu no Seio. Então, se nos participamos destas realidades, em uma medida maior, até única, é a participação da Virgem Maria a estes mistérios.
Ninguém como Ela foi fiel imitador do Seu próprio Filho. A Bíblia nos fala daqueles que meditam fielmente na sabedoria (Sl 51,8); com certeza Maria ao longo dos nove meses de gestação recebeu muitas luzes que acrescentaram a sabedoria possuída pela graça da sua pureza sem mancha.
Depois, nos anos escondidos de Nazaré, contemplou dia após dia o Seu Filho com olhos de fé, meditando as suas atitudes.
Além dos anos da infância de Jesus, a intimidade da Virgem com Seu Filho, continuou depois da Ascensão do Senhor ao Céu no encontro com Ele na divina eucaristia. Não podemos imaginar o que foram as conversas de Nossa Senhora com Jesus nos momentos da comunhão. Considerando que acima da nossa união com Jesus na comunhão, temos somente a glória do Céu e que nos não podemos aproveitar plenamente desta união por causa das nossas imperfeições, em Maria estes defeitos não existiam, pois a sua correspondência a graça de Deus foi sempre perfeita. Por isso as suas comunhões eram uma imersão no Amor de Deus, no Amor do Filho.
Mesmo não sendo sacerdote, a Virgem ofereceu a Deus um sacrifício perfeito de si mesma, unida aquele fundamental de Jesus. Participou a sua Paixão com as suas dores até o momento da morte do Senhor sobre a Cruz, recebendo como Mãe os discípulos, em particular os apóstolos, na pessoa de são João (cfr. Jo 19,26-27). Esta entrega se tornou perfeita no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos, e Maria estava com eles. Assim a Igreja se apresenta completa, junto com Maria.
O Evangelho não fala nada da vida de Nossa Senhora depois da Pentecostes, mas podemos bem pensar que Ela foi sempre o centro da Igreja dos inícios, guiando com a sua oração e com seus conselhos os primeiros passos da comunidade, mas respeitando o plano do Seu Filho, nunca querendo obscurecer a autoridade dos apóstolos. Com certeza Ela permaneceu como a síntese, o modelo vivo da Igreja. Por isso os últimos quatro Papas falam do princípio Mariano e do princípio Petríno que se encontram na origem da Igreja e em toda a sua vida, e o mais fundamental é o princípio Mariano; ideia formulada para um dos maiores teólogos do século XX, Hans Urs von Balthasar.
Para ser modelo da Igreja, para completar a sua proximidade única ao Filho, precisava que Ela compartisse, também, a glória: o Seu corpo sem mancha, imaculado, não podia conhecer a corrupção do sepulcro. Por isso, no final dos seus dias terrenos, foi arrebatada a glória do Céu em alma e corpo. Mesmo que a definição dogmática desta verdade é do século passado, sempre a Igreja acreditou nisso, sempre os fiéis acreditaram firmemente que a Mãe de Deus já é na gloria, junto ao seu Filho, signo de segura esperança para nós, peregrinos nesta terra. Contemplando Maria, contemplamos o que será o nosso destino, se permanecemos na vida da graça, firmes na fé com a ajuda maternal de Nossa Senhora, pois a gloria de Maria é uma glória ativa. Ela continua a sua tarefa maternal respeito a Igreja e a cada um dos fiéis; continua a ser guia, mestra da vida cristã e intercessora com a sua oração.
Padre Maximiliano
Vice prior do Instituto Franciscanos da Imaculada.