Cardeal Parolin: percebo como os bispos estão comprometidos com a missão

O Secretário de Estado cardeal Parolin está no Brasil para conduzir o retiro espiritual da Assembleia Nacional da Conferência dos Bispos do Brasil no Santuário de Aparecida. O cardeal visitou o presidente em Brasília no dia 8 de abril: “Pudemos conversar sobre questões específicas do Brasil e ampliar nosso olhar sobre os grandes problemas, como a pobreza, a desigualdade, a justiça e, acima de tudo, a paz”. 
 
Confira a entrevista realizada por Silvonei José!

Eminência, o senhor está no Brasil junto à maior conferência episcopal do mundo: mais de 480 bispos. Como é olhar para tantos pastores como o senhor?

R. – É uma sensação muito forte, porque, como mencionei na breve saudação que fiz à Conferência, no início da assembleia, eu os havia conhecido por regiões eclesiásticas durante a visita ad Limina, e já lá tive a impressão de uma Conferência muito grande. Agora aqui, vendo-os todos juntos, é um efeito muito, muito forte, mas ao mesmo tempo também percebo o quanto esses bispos estão comprometidos com a missão, com a evangelização. Parece-me que, além de enfatizar o tamanho, a quantidade dessa Conferência Episcopal – porque obviamente o país, o Brasil, é enorme, é um continente, como se diz -, mas também esse compromisso de todos os bispos em realizar a evangelização e a animação cristã, também, da sociedade para que seja uma sociedade que tem seus problemas, mas que sempre responde melhor ao Evangelho.

Antes de chegar a Aparecida, o senhor esteve em Brasília, onde também se encontrou com o presidente Lula…

Sim: normalmente, quando eu me desloco por algum motivo eclesiástico-religioso, há sempre também uma parte – digamos – mais política, dado o papel que desempenho. Nesse sentido, o núncio havia organizado um encontro com o presidente Lula que foi – eu diria – muito proveitoso. O fato de encontrar o presidente é precisamente parte de nossa atividade, de nossa função, como representantes dos aspectos diplomáticos da Santa Sé também. Foi um bom encontro, e pudemos falar sobre questões que são mais específicas do Brasil, como o tema do Acordo e a aplicação do Acordo entre a Santa Sé e o Brasil; mas depois, também vimos os grandes problemas internos – o tema da pobreza, o tema da desigualdade, o tema da fome, o tema da justiça – e depois também um pouco sobre os problemas do mundo de hoje e [entre estes] especialmente o tema da paz.

Olhamos para este Santuário, que é imponente, mas que é também a Casa da Mãe, e também vemos muitos peregrinos….

Sim, foi o que me disseram, especialmente nos fins de semana a Casa fica cheia: devem ser muitos, porque o santuário é imponente. É a primeira vez que o vejo, mas me chamou a atenção justamente por seu tamanho. Então, se ele se enche de peregrinos em certas circunstâncias do ano ou mesmo meses – nos meses de verão, especialmente -, mas também todo fim de semana, isso significa que há muitos peregrinos. Mas isso é maravilhoso porque realmente sentimos de verdade como parte de nossa fé católica esse apego a Maria que nos ajuda, como está no Evangelho, nos ajuda a aderir cada vez mais firme e consistentemente a Jesus Cristo. Assim, Maria é a Mãe que, no entanto, nos conduz ao seu Filho e essa é a sua missão para os cristãos de todos os tempos.

Uma última pergunta: o senhor trará também alguma reflexão para o retiro com nossos bispos…

Sim, fui convidado e estou aqui exatamente por esse motivo, porque existe essa bela tradição de iniciar a assembleia da Conferência Episcopal com um retiro de dois dias. Fui convidado por dom Spengler durante o Sínodo dos Bispos, e ele me disse para falar um pouco sobre as três palavras que definem a sinodalidade, a saber, comunhão, participação e missão. Serão reflexões, não tanto questões concretas sobre a sinodalidade, mas como um horizonte sobre esses três temas que são fundamentais precisamente para a vida da Igreja: o fato de que somos comunhão, o fato de que todos nós, em virtude do batismo e da confirmação – os sacramentos da iniciação cristã -, devemos participar, e devemos participar no sentido de proclamar o Evangelho, primeiro a nós mesmos, porque, como recorda a Evangelii nuntiandi, antes de evangelizar, a Igreja deve deixar-se evangelizar.


Informações: Silvonei José – Vatican News – Aparecida