Pe. Tiago Borges, São José do Rio Pardo – SP.
Ao longo dos séculos da vida cristã, as intervenções de Deus na vida do homem foram inúmeras, sobretudo, em momentos de fortes crises eclesiais. Foram nestes contextos que contemplamos o surgimento de grandes homens e mulheres que se deixaram transformar pela vida divina habitada neles. Catarina de Sena ilustra muitíssimo bem esta realidade, pois sua história passa-se em tempos difíceis da trajetória da Igreja.
O Papa Bento XVI, comentando sobre esta intervenção de Deus na história através do aparecimento dos santos, disse sobre Catarina de Sena:
“O século em que ela viveu — o décimo quarto — foi uma época difícil para a vida da Igreja e de todo o tecido social, tanto na Itália como na Europa. Todavia, mesmo nos momentos de maior dificuldade, o Senhor não cessa de abençoar o seu Povo, suscitando Santos e Santas que despertam as mentes e os corações, levando à conversão e renovação. Catarina é uma delas, e ainda hoje nos fala e nos leva a caminhar com coragem rumo à santidade para sermos, de modo cada vez mais pleno, discípulos do Senhor”. Bento XVI, 2010
Com sua vida Santa Catarina provocou uma grande transformação nos seus contemporâneos. Entre os seus discípulos estão agostinianos, franciscanos, monges, sacerdotes seculares, mães de família, artistas, médicos, juristas, mercadores, artesãos, enfermos, prostitutas, ou seja, ela se tornou no seu tempo, um farol para iluminar a muitos com a Presença de Deus.
Catarina de Sena e a evangelização:
As suas estratégias para alcançar as pessoas e evangelizá-las eram diversas. Primeiro ela fazia direção espiritual pessoalmente atendendo a cada um muitas vezes em seu próprio quarto. Outro modo de evangelização se dava por meio de conferenciais semanais para instruir os seus filhos espirituais. E uma terceira forma que ela encontrou de conduzir as pessoas à vontade de Deus, foi escrevendo cartas. E neste aspecto reside o seu maior legado para a vida da Igreja. Ela escreveu algumas e ditou para um amigo outras, pois ela era analfabeta, 380 cartas endereçadas a diversas pessoas e situações: de Papa à Reis, de anônimos à grandes nomes de seu tempo.
Fazia-o com uma caridade imensa em seu coração, pois seu único desejo era a salvação das almas. Ela conseguia mesclar grande força e tenacidade e ao mesmo tempo usar palavras doces e convincentes. De fato, a maioria dessas cartas, terminam com uma belíssima expressão: Jesus doce, Jesus amor!
Catarina dialogava com as pessoas porque antes ela mantinha um Diálogo constante com Deus Pai. De fato, ao lado das Cartas, a obra do Diálogo, é outro grande legado que ela deixou para a vida da Igreja. O seu ensinamento é dotado de uma riqueza tão profunda que, em 1970 o papa Paulo VI declarou-a Doutora da Igreja. Realmente seus escritos refletem os fulgores da sabedoria divina.
Catarina de Sena e o progresso espiritual:
É na obra do Diálogo que Catarina de Sena expõe de maneira magistral o caminho do progresso espiritual que nós devemos percorrer. Ela descreve que a humanidade estava mergulhada num rio de pecado. E Deus Pai então, constituiu o Cristo crucificado como uma ponte lançada entre o céu e a terra, a qual devemos subir, para sair da escravidão do pecado. Ela é formada por três grandes degraus, constituídos pelos pés, pelo lado e pela boca de Jesus. Elevando-se através destes grandes degraus, a alma passa, então, pelas três etapas de cada caminho de santificação: o afastamento do pecado, a prática da virtude e do amor, a união dócil e afetuosa com Deus.
O escritor Gustavo Corção (1948) comentando a vida de Catarina de Sena afirma que sua vida pode ser dividida, em duas partes distintas: a primeira em que a santa percorre rapidamente as três vias da perfeição descritas acima, e que poderíamos chamar contemplativa; a segunda em que ela manifesta ao mundo os dons que recebera no segredo de seu retiro, e que poderíamos chamar apostólica ou ativa.
Vida de oração:
Mas, a bem dizer, não há duas partes realmente distintas na vida da santa, nem é muito exato dizer, que ela foi ora contemplativa e ora ativa. Foi sempre ambas as coisas. Se nos atos, nos fatos e nos episódios há margem para se estabelecer tal distinção, no âmago mesmo do processo de santificação subsistem sempre os dois extremos do indispensável paradoxo. Não há santo sem vida de oração e sem vida de apostolado.
Catarina de Sena, faleceu no ano de 1380 com 33 anos de idade. Para o século em que viveu se tornou um grande sinal da misericórdia de Deus. Para os nossos tempos sua vida continua sendo um ícone significativo para aqueles que desejam trilhar o caminho da perfeição cristã.
Como mística ela mostrou ao mundo como devemos honrar e fazer solenidade a Deus Pai e ao seu esposo Jesus.
Fazer solenidade à Catarina pois em mais de trezentas e oitenta cartas escritas, ela nunca deixou que alguém ficasse sem uma orientação, uma bússola ou direção de que caminho prosseguir. Ela é para nós uma fonte de ensinamentos que inspiram nosso modo de vida. Com ela aprendemos, sobretudo, a fidelidade a Santa Mãe Igreja.