Ao descer a montanha, Jesus, diante de grande multidão, lança o olhar aos discípulos e proclama as “bem-aventuranças da planície”. “Felizes sois vós” é o anúncio de felicidade proferido pelo Mestre. Ser feliz é o desejo de todos. A humanidade foi criada para ser feliz e esperançosa.
Lucas propõe quatro “bem-aventuranças” e quatro “desventuras”. Contrasta pobres com ricos; famintos com fartos; os que choram com os que riem; os odiados por causa do Reino com os elogiados. Com as bem-aventuranças, Lucas propõe partilha e solidariedade com os mais fragilizados.
“Carteira de identidade do cristão”, as bem-aventuranças proclamadas por Jesus constituem um anúncio de felicidade dirigido a todos, não apenas a uma minoria. Há quem entenda as felicitações propostas pelo Mestre de Nazaré como algo a ser alcançado após a morte ou, pior, como um convite ao conformismo.
Contrariamente, a felicidade oferecida por Jesus é para ser iniciada neste mundo e representa forte protesto contra o conformismo. Jesus jamais apreciou e aprovou a miséria e a dor humanas; antes, convida as várias categorias de felicitados a levantar a cabeça, dando-lhes a certeza de que o Reino de Deus lhes pertence e que sua condição haverá de mudar à medida que se empenharem nessa busca. Ele anima essas pessoas a serem “buscadoras de felicidade”.
O Reino inaugurado por Jesus propõe a superação de uma “sociedade dual”. Tal realidade, porém, continua distante, pois poucos acumulam fortunas e muitos tentam sobreviver com migalhas. Enquanto perdurar no mundo a dualidade entre (poucos) ricos e (muitos) pobres, o Reino de Deus corre o risco de parecer apenas distante utopia.
Diante disso, todos os seguidores do Mestre são convidados a dar sua contribuição para tornar esse Reino visível em nossa sociedade, embora ele não se esgote neste mundo. Para tanto, o Evangelho propõe que as bem-aventuranças sejam vividas já no presente, a começar de nós, discípulos e discípulas de Jesus.