Caminhar no mundo é como perambular num vale desconhecido. Foi neste deserto que o Senhor teve piedade e nos encontrou. Andarilhos gastos com uma carga insuportável no alforge.
Com centenas de mandamentos revertidos e simplificados na formulação elegante e simples do amor a Deus e ao irmão, Jesus resolve as coisas para nós. Era quase impossível, mas Jesus deu um jeito.
Paulo mesmo não deixava de se maravilhar pelo modo como a profecia antiga ganhou vida em Jesus. A revelação plena do mundo esperado foi quase escandalosa, por isso Ele mesmo disse: não vos escandalizeis comigo.
Mas foi difícil não se escandalizar. Seiscentas e treze normas, em sua maioria, proibições, não era razoável. Tantas normas postas, claramente entram em contradição e se anulam mutuamente, gerando o risco de recair sobre ombros humanos a responsabilidade de eleger a sua preferência.
Muitas dessas leis eram excessivamente particulares, como a 348, que recomendava “salgar todos os sacrifícios”, ecoando Levítico 2,3.
Questões éticas e morais se misturavam por toda parte, sem um fio condutor para orientar a tomada de decisão e a escolha do caminho. A Revelação precisou ser acelerada para que o Reino de Deus não fosse impedido pelos incontáveis impedimentos que lhe foram postos diante.
Não é, pois, estranho que muitas leis orientem a vida de um povo. Preceitos de todo tipo emergem no limite entre a ética, a moral, a política e o direito. Saberes se ladeiam para aprumar o caminho; mas, sem um fio condutor que os unifiquem, o aparato moral ou religioso vira uma mera certeza emocional de batalhas e conflitos sem fim.
Jesus Cristo, que é o mesmo ontem, hoje e sempre, é a única norma vivente, universal e concreta. Sem a angularidade da Norma encarnada o mundo se pulveriza em estilhaços de verdades, incapazes de iluminar a estrada e curar os feridos no coração.
Com Ele no meio de nós tudo é realinhado numa direção só. Uma verdade se liga a outra sem contradição. A pessoa é posta no centro! Entre as pessoas começa-se pelos que precisam mais, pelos mais frágeis e pelo excluídos. A partir dessa sensibilidade exterior, chega-se também à melhora e a cura interior.
As palavras e ações de Jesus se transmutam numa conjunção de fé. Cada detalhe de sua vida é para nós uma proposição normativa. E, como Ele mesmo não escreveu nenhum código, mas testemunhou com a sua humanidade o desenvolvimento dos enunciados propostos, muitos ficaram admirados com a sua autoridade (Mc 1,27).
Foi por isso que, querendo orientar o seu jovem amigo Timóteo, agora Bispo, a prosseguir no caminho do Senhor, São Paulo enfatiza que na memória da Igreja, apenas Jesus Cristo tem a primazia.
Como naquele tempo, também hoje, faz-se necessário aprumar os objetivos e orientar as escolhas, acolhendo a recomendação do apóstolo que ecoa pelo tempo: “Lembra-te de Jesus Cristo” (2Tm 2,8).
Autor: Dom Lindomar Rocha Mota – Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Fonte: CNBB