Natividade de Nossa Senhora

Natividade de Maria Santíssima

A festa litúrgica da natividade de Maria é comemorada em 8 de setembro, nove meses após a solenidade do dogma mariano da Imaculada Conceição, comemorado em 8 de dezembro. Esse dogma nos diz que Maria foi concebida sem a mancha do pecado original, assim como nos escreve Santo Afonso Maria Ligório em seu livro Glórias de Maria: “Dessa comum desventura quis Deus, entretanto, eximir a Virgem bendita”1, e o Papa Pio IX completa na “Bula Ineffabilis Deus”: “Maria, cumulada de graças, sobrepassa em santidade, desde sua concepção, até os anjos e serafins”2. Na mesma bula o Papa Pio IX ressalta: 

[…] a doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, é uma doutrina que foi revelada por Deus e, portanto, deve ser acreditada firme e constantemente por todos os fiéis”.3

Nos textos bíblicos não temos referência sobre o nascimento da Santíssima Virgem Maria, apenas sabemos os fatos que foram relatados nos evangelhos apócrifos, que não têm inspiração divina e narram apenas a tradição oral dos primeiros cristãos, principalmente no Protoevangelho de Tiago e no Pseudo-Mateus. Segundo consta, Joaquim e Ana, os pais de Maria, há anos esperavam por um(a) filho(a) e eram considerados estéreis, mas não desistiram e continuaram a pedir em oração e súplicas a Deus. Em resposta às suas preces, pela obediência e paciência, quando já estavam na velhice, foram agraciados por Deus com o nascimento de Maria.

Segundo os evangelhos apócrifos, Maria aos três anos foi consagrada ao templo, cumprindo assim a promessa feita pelos seus pais, quando estes suplicaram a Deus a graça de uma descendência. Lá ela teria permanecido até o casamento com São José.

Quanto ao local de nascimento da Santíssima Virgem, segundo a tradição oral e escrita, aparecem quatro possíveis cidades, cada uma defendida por uma corrente de autores. Belém, devido ao texto bíblico do Evangelho de Lucas que fala sobre o recenseamento antes do nascimento de Jesus, quando Maria já estava grávida (Lc 2,1-5). O evangelista relata que os cidadãos da Palestina tiveram que ir cada um à sua cidade para recensear-se, e São José foi à Belém, pois, era sua cidade natal, mas levou sua esposa Maria indicando que ela provavelmente precisou ir, pois, também era sua cidade natal. Assim São Cirilo, bispo de Alexandria entre os anos de 412 a 444, ensinava a seus fiéis “Belém é uma povoação donde são naturais Jessé, Davi, e também a virgem que nos deu à luz o menino Jesus”. Outro autor que defende essa mesma ideia é São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, que pronunciou em uma homilia de Natal no ano de 396 esse mesmo raciocínio.4

Nazaré, por sua vez, é defendida por ser o local onde o anjo Gabriel anunciou à Maria que ela seria a mãe do Filho de Deus (Lc 1,26-38), indicando que ela poderia ter vivido ali desde seu nascimento. Jerusalém aparece também como possível cidade natal, pois o Protoevangelho de Tiago relata que os pais de Maria viviam neste local. Até existe uma igreja onde por tradição dizem ser o local de nascimento de Maria, a Basílica de Santa Ana.

Por último, Séforis é apontada segundo alguns estudos como a mais provável, pois, alguns autores antigos relatam que ali era a terra de Joaquim e Ana. Por uma tradição confirmada, no local existem ruínas de uma igreja da época cruzada com três naves dedicadas à Santa Ana. Elas estão no Parque Nacional, terreno que pertence à Custódia da Terra Santa desde 1841.5 Escritos dos primeiros séculos do Cristianismo também falam da existência de uma igreja e mais tarde, de uma basílica no local onde viviam os pais de Maria, segundo um artigo publicado pelos Franciscanos Capuchinhos de Portugal, que também defendem a cidade de Séforis como a mais provável. Eles relatam em seus estudos:

das quatro cidades que ao longo da história se propuseram como a terra natal de Maria, três não parecem sê‐lo. Belém, por se basear numa interpretação bíblica errada. Nazaré, porque nasceu a partir de uma confusão com a anunciação. E Jerusalém, porque surgiu da necessidade de mostrar Maria ligada ao Templo desde menina. A única tradição que não é suspeita de qualquer interesse teológico, que não parte de nenhuma dedução bíblica, e que por isso resulta imparcial, é a de Séforis. Por isso, quando os autores antigos garantiam que Maria tinha nascido ali, faziam‐no por um único motivo: porque, com toda a probabilidade, era a sua terra natal.” 6

Muito ainda sobre Nossa Senhora é de fato um grande mistério, mas a certeza que temos é que Maria é uma obra-prima do Pai, “a cheia de graça” (Lc 1,28). Nela vemos o resultado da ação de Deus. Assim o Papa Francisco interpreta o que Deus revela na saudação do Anjo na Anunciação: “Eu Te fiz repleta do meu amor, cheia de mim, e assim como estás plena de mim, estarás plena do meu Filho e depois de todos os Filhos da Igreja”.7

“Santa Maria rogai por nós!”

André Luís Fernandes Crupelati
Associado Academia Marial de Aparecida
Missionário Comunidade Católica Presença

Referências

  1. LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de Maria. Aparecida: Santuário, 2006.
  2. PIO IX, papa. Bula Ineffabilis Deus. A Santa Sé. Roma, 08 dez. 1854. Disponível em: https://www.vatican.va/content/pius-ix/it/documents/18541208-costituzione-apostolica-ineffabilis-deus.html. Acesso em: 30 de ago. 2023.
  3. Idem.
  4. VALDÉZ, Ariel. Onde nasceu a Virgem Maria? Capuchinhos, 08 set. 2022. Disponível em: https://www.capuchinhos.org/biblia-e-liturgia/a-biblia-responde/onde-nasceu-a-virgem-maria#%3A~%3Atext%3DComo%20o%20Protoevangelho%20de%20Tiago%2Cuma%20antiga%20piscina%20chamada%20Prob%C3%A1tica. Acesso em: 26 ago. 2023.
  5. REIS, Gracielle. Séforis: a cidade do nascimento de Sant’Ana, a mãe da Virgem Maria. Christian Media Center, 05 set. 2018. Disponível em: https://cmc-terrasanta.org/pt/media/terra-santa-news/15589/seforis:-a-cidade-do-nasciment o-de-sant%E2%80%99ana,-a-m%C3%A3e-da-virgem-maria. Acesso em: 02 de set. 2023.
  6. Ibidem.

7. FRANCISCO, Papa; POZZA, Marco. Ave Maria. São Paulo: Planeta, 2019.