Onde não está o Espírito de Deus, está Satanás

Consideremos, em primeiro lugar, com que ditoso hóspede se entretém a alma, quando tem dentro de si o Espírito Santo. Ele é chamado na Escritura de Paráclito (Qui diceris Paraclitus), nome que significa, ao mesmo tempo, “consolador” e “intercessor”: consolador, por causa das graças e consolações que Ele comunica à alma, tornando doces, em sua peregrinação mortal, todas as suas cruzes e trabalhos, e ajudando-a a superar todas as dificuldades e oposições; e intercessor, por suplicar para ela o espírito de oração, que Ele mesmo inspira, ensinando-a a rezar, agindo com ela e nela.

Ele é chamado o dom do Altíssimo por excelência (altissimi donum Dei), o maior presente que Deus nos pode conceder. Afinal, o que pode Ele nos dar que seja maior do que Ele mesmo? Ele é dom que abarca, pois, todos os outros.

Ele é chamado de fonte viva (fons vivus), ou fonte de água viva, jorrando para a vida eterna, revigorando o homem interior, amenizando o fogo da concupiscência, extinguindo toda sede pelas coisas deste mundo, e regando a alma com uma corrente perene de graças.

Ele é chamado de fogo (ignis), pelas chamas vivas de amor com que incendeia a alma; de unção da alma (spiritalis unctio), por difundir com doçura a Si mesmo por toda a alma, dando-lhe força e vigor. Ó, que mais pode querer a alma que com um tal hóspede se entretém? Não se antecipa nela, em certa medida, a alegria do Céu, tendo dentro de si o Rei dos céus com todas as suas graças?

Consideremos, em segundo lugar, os frutos benditos que produz na alma a presença do Espírito Santo, tais como os enumera São Paulo (cf. Gl 5, 22-23) e ensina a Tradição da Igreja:

  1. caridade — que abrange o amor de Deus, por sua própria bondade infinita, e o amor do próximo, em Deus e por Deus —, fruto tão notável nos primeiros cristãos depois que eles receberam o Espírito Santo, ao ponto de os Atos dos Apóstolos dizerem que, por seu amor a Deus, “a multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4, 32).
  2. alegria, provinda do testemunho de uma boa consciência (cf. 2Cor 1, 12), bem como de percebermos a presença desse divino Hóspede, e experimentarmos a sua doçura.
  3. paz com Deus, com nosso próximo e conosco mesmos, uma paz que não é concedida aos perversos.
  4. paciência em suportar cruzes e adversidades, as quais torna leves e suaves este Espírito celeste.
  5. benignidade, ou gentileza, em aliviar os aflitos.
  6. bondade, que é como uma vontade de comunicar tudo que há de bom ao nosso próximo.
  7. longanimidade, que é a disposição de sofrer com perseverança, sem desanimar, a fim de vencer o mal com o bem.
  8. mansidão em conter a própria cólera e suportar injúrias.
  9. fidelidade a todos os nossos compromissos, seja com Deus seja com nosso próximo.
  10. modéstia, moderação em todas as coisas, regulando todo movimento seja do nosso corpo seja da nossa alma.
  11. continência, que é temperança em refrear todas as nossas inclinações desordenadas.
  12. castidade, que preserva seja o corpo seja a alma das impurezas da luxúria.

Ó que frutos felizes são estes! E quão feliz é a alma na qual o Espírito de Deus produz todos estes frutos! Ó alma minha, traz este Espírito celeste para dentro de tua casa interior, entretém-te aí com Ele, e todos estes frutos serão teus!

Consideremos em terceiro lugar que, assim como nada pode ser mais ditoso que possuir o Espírito Santo em nossa alma, nada pode ser mais miserável do que estar sem esse divino Hóspede. Onde não está o Espírito de Deus, aí está Satanás. E, ai de nós!, pode haver miséria maior que ser possuído por Satanás? “Se alguém não tem o Espírito de Cristo”, diz o Apóstolo, “não pertence a Cristo.” ( Rm 8, 9). Se não pertence a Ele, a quem pertence então? Que lugar poderia ele tomar no Corpo de Cristo ou no seu Reino?

Ó, quão verdadeiro é o que a Igreja canta nestes tempos, em sua súplica ao divino Espírito: Sine tuo numine, nihil est in homine, nihil est innoxium, isto é, sem a luz da divindade, nada há no homem, nada que seja inocente (em nossa tradução litúrgica: “Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”). Temamos, pois, a miséria de ficar sem Ele, e fujamos de todos os males que O possam afastar de nós.

Não negligenciemos, por fim, nada que esteja em nosso poder, pelo qual devemos procurar para nossa alma a alegria de ser um templo do Deus vivo e de ter aí o Espírito Santo, não apenas como um visitante, mas fazendo morada definitiva em nós, tanto no tempo como na eternidade.


Autor: Dom Richard ChallonerTradução: Equipe Christo Nihil Praeponere