“O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2,17).
Os santos ensinam, com unanimidade, que o caminho da santidade é “fazer a vontade de Deus”. Isto nos santifica porque nos conforma com Jesus, o modelo da santidade, que, acima de tudo queria fazer a vontade de Deus em todo tempo.
A Encarnação foi a maneira que Jesus encontrou para, como homem, fazer perfeitamente a vontade de Deus, que Adão não quis fazer.
A primeira coisa que temos de compreender, e aceitar na fé, é que a vontade de Deus nem sempre, ou quase sempre, não coincide com a nossa. E aí está o primeiro passo para amar a Jesus: abdicar do que nós queremos, para fazer o que Ele quer. É o que São Paulo chamava de “a obediência da fé” (Rm 1,5) sem o quê é “impossível agradar a Deus” (Hb 11,6) já que o “justo vive pela fé” (Hab 2,4; Rm 1,17).
O profeta Isaías disse: “Meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor, mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 8-9).
A lógica de Deus é diferente da nossa porque Ele vê todas as coisas perfeitamente, enquanto a nossa visão é míope e limitada. É como se olhássemos a vida como um belo tapete persa, só que pelo lado do avesso.
Não podemos duvidar de que a vontade de Deus para nós seja “a melhor possível”, mesmo que nos seja incompreensível no momento.
O que mais agrada a Deus é trocarmos, consciente e livremente, a nossa vontade pela Dele, porque isto é prova de muita fé, concreta. Quando damos esse passo, Ele substitui a nossa miséria pelo seu poder. Portanto, é preciso a cada dia, a cada passo, em cada acontecimento da vida, fazer esse exercício contínuo de aceitar a vontade do Senhor, que sabe o que faz.
São Bernardo disse que “se os homens fizessem guerra à vontade própria, ninguém se condenaria”. Este é o segredo para se abandonar aos desígnios de Deus: ele é Pai, ele nos ama, ele quer só o nosso bem, por mais adversas e incompreensíveis que seja a situação que vivemos. Ele está no leme do barco da nossa vida. É preciso confiar!
Deus é o maquinista do trem da nossa vida, por isso não precisamos nos preocupar para onde ele nos leva. O salmista diz:
“Confia ao Senhor a tua sorte, espera Nele: Ele agirá” (Sl 36,5).
“Mas eu Senhor, em vós confio (…) meu destino está em vossas mãos” (Sl 30,15-16).
São Paulo insistia nisso; dar graças a Deus em tudo é o que alegra ao Senhor, pois é o melhor testemunho de fé que lhe damos. Esta atitude consciente elimina a tristeza, arranca o mau humor, a impaciência, a grosseria com os outros e a perigosa lamentação.
É nessa perspectiva que São Paulo dizia: “Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dar graças (…)” (1Ts 5,16).
Não seremos felizes de verdade e não teremos paz duradoura, sustentada, enquanto não nos rendermos à santa e perfeita vontade de Deus.
“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos! (…). O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com nada; mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 4-7).
O santo vive na paz e na perene alegria, embora caminhando sobre brasas muitas vezes. São João Bosco dizia que “um santo triste é um triste santo”, e o seu discípulo, São Domingos Sávio, dizia que a santidade consiste em “cumprir bem o próprio dever e ser alegre”.
São Paulo perguntava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31). E o Apóstolo explicava a razão dessa esperança: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho (…) como não nos dará com Ele todas as coisas?” (Rm 8,32).
É nessa mesma fé e esperança que o santo vive; a cada instante repetindo para si mesmo aquela palavra do Senhor: “Não vos preocupeis por vossa vida (…). Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? (…). São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso” (Mt 6,25-32).
Jesus ensina o que é essencial: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça” (Mt 6,33), isto é, fazer a vontade de Deus.
Também conosco será assim; é nos momentos mais difíceis da vida, nas crises de toda espécie, que temos a oportunidade de fazer a vontade de Deus da melhor maneira; especialmente quando Deus nos pede beber o cálice da amargura. O que fazer? Correr, fugir?
A vontade do Pai deve ser perfeitamente realizada na terra como é no céu. Quando isto acontecer, então o Reino dos céus acontecerá na terra plenamente.
Na última Ceia Jesus disse a seus Apóstolos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).
Quem não luta para guardar os Mandamentos de Deus, não ama a Deus. É por amor a Jesus que devemos amar os Mandamentos e não pecar. Eles são o caminho da conduta moral que nos leva à perfeição querida por Deus.
Infelizmente, em nossos dias, os homens querem fazer a própria moral e não mais viver a moral que Deus nos deu. É o que nos tem dito o Papa Bento XVI, “a ditadura do relativismo”: cada um faz a moral e a doutrina que quer; como se Deus não existisse e não tivesse revelado suas leis; e quem não aceita esta “nova mentalidade” é, então, taxado de retrógrado, obscurantista e atrasado. É uma verdadeira ditadura do homem contra Deus. É como se a verdade não existisse e o bem fosse igual ao mal.
Ninguém como os santos viveram bem a vontade de Deus; então, vamos aprender com eles. Selecionamos alguns pensamentos de alguns Santos Doutores.
Ensinamentos dos Santos Doutores
· Santa Teresa de Ávila (†1582)
“É evidente que a absoluta perfeição não consiste nas alegrias interiores, nem nos grandes êxtases, visões, nem no espírito da profecia. Consiste em tornar nossa vontade de tal modo conforme a de Deus, que abracemos de todo o coração o que cremos querido por ele e que aceitemos com a mesma alegria o que é amargo e o que é doce, desde que compreendamos que Sua Majestade o quer” (Fundações, cap. 5, n.10).
· São Bernardo (†1153)
“Quando se vê uma pessoa perturbada, a causa da preocupação não é outra coisa senão a incapacidade de realizar a própria vontade”.
· Santa Catarina de Sena (†1380) – dos Diálogos com Deus:
“O que faz o homem sofrer é a vontade própria”.
“Meus servidores não sofrem, porque se despojaram da vontade própria e se revestiram da Minha”.
“Venham de onde vierem as adversidades são instrumentos Meus que fazem meus servidores padecerem no corpo; perseguidos pelo mundo nada sofrem no espírito. Identificaram-se com a Minha vontade e até se alegram em tolerar males por Mim”.
“É indispensável que considereis como elemento básico de vosso aperfeiçoamento a eliminação da vontade própria; submetendo-a a Mim, fareis um ato de desejo agradável, inflamado, infinito para Minha honra e para a salvação dos homens”.
“O homem conformado à Minha vontade é desapegado de si mesmo, vence o mundo, o demônio e a carne; ao chegar o momento da morte, seu falecimento acontece na paz”.
“Mais sofria o rico epulão com suas posses, que o pobre Lázaro com sua lepra. No rico estava acordada a vontade própria; donde procede toda a infelicidade, enquanto que em Lázaro ela morrera”.
Escrita por Professor Felipe Aquino.
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