A palavra lectio divina vem do latim e significa: Lectio: Em primeiro lugar indica lição, ou texto, posteriormente em uma segunda tradução, passou a ser compreendido por leitura, que também se origina de “legere” que quer dizer conhecer.
Divina: Derivação do adjetivo latino “divinum” indica algo pertencente ou relacionado a Deus, algo sagrado. Em resumo, quer dizer: leitura dos textos sagrados recomendada pelos Padres da Igreja.
A lectio divina que compreendemos hoje, é apresentada como um método de leitura da Escritura, tem suas origens no século 12, relacionada ao que tem sido chamado de “teologia monástica”. Após o Concílio Vaticano II, ocorreu uma orientação cada vez maior para a dedicação ao estudo e oração das Sagradas Escrituras, e a Dei Verbum (Constituição Dogmática Pós-Concílio) vai dizer: “Que a Leitura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem (…) a fim de que nenhum destes se torne pregador vão e superficial da palavra de Deus, por não a ouvir de dentro” (Dei Verbum, in nº 25).
Passos da Lectio Divina
Guigo, o monge Cartucho (cisterciense do século XII) nos indica as etapas da lectio divina.
1.Leitura (Lectio):
A leitura é um exercício externo, e o grau dos principiantes. Tenhamos portanto a humildade de ler a Sagrada Escritura, mesmo se, às vezes, nós temos a pretensão de já conhecê-la. A leitura deve ser desinteressada, gratuita, amorosa e na fé, e requer dedicação de tempo para não ser realizada de maneira superficial.
Para uma boa leitura, é necessário primeiro lançar sobre o texto bíblico um olhar impessoal, analisando a cena descrita, a linguagem utilizada e o contexto histórico e sociocultural. A partir disso podemos inferir o sentido literal da Palavra. Mas a riqueza dos textos bíblicos, no Antigo e no Novo Testamento, de forma implícita ou explícita, sempre permitem-nos um encontro com Jesus, o Verbo do Pai. É o que tradicionalmente se conhece por sentido alegórico (ou cristológico) da Escritura. A Palavra de Deus carrega sempre ainda um sentido moral (ou antropológico), uma lição prática que nos podem conduzir a um comportamento justo. Por fim, toda a Escritura faz-nos entrar, já aqui na terra, na visão do Céu e do Eterno. Podemos assim ler a Palavra de Deus em seu sentido escatológico.
2.Meditação:
É o ato da inteligência que nos coloca acima dos sentidos. É o grau daqueles que progridem e o dos que já podem meditar a Palavra de Deus. Para que a Palavra possa penetrar e produzir os seus efeitos em nós, é necessário constância e perseverança no exercício de meditação.
É importante ressaltar que a meditação do texto bíblico não se deve limitar ao tempo do exercício da Lectio Divina, mas somos chamados a continuar a meditar a Palavra durante o nosso dia, e mesmo no decorrer de nossos trabalhos e atividades, permitindo à Escritura de realizar um trabalho de frutificação interior em nossa alma.
3.Oração (Oratio): Prece, oração, que faz entrar no mistério. É o grau dos fervorosos.
A oração é a minha resposta pessoal à leitura da Boa Nova. Depois de ter lido, penetrado, meditado o texto, podemos sentir o desejo de fechar a nossa Bíblia para louvar o Senhor. Agora, a fim de não mais escutar o que o Senhor me diz, mas simplesmente amá -Lo, contemplá –Lo e responder -Lhe. A partir da Palavra viva, nossa oração pode tomar múltiplos aspectos, como o louvor, a ação de graças e o reconhecimento, mas também a contrição do coração, o pedido, a intercessão e a súplica.
4. Contemplação (Contemplatio): Oração de quietude. É o grau dos bem aventurados, que corresponde à vida mística.
A Contemplação é o que fica nos olhos e no coração, quando acabou a Oração. É fundamentalmente, a concentração da minha atenção, não em sentimentos ou em orações, mas em Jesus Cristo e na minha relação pessoal com Ele. É importante durante a etapa da Contemplação guardar um pequeno trecho da Escritura (um versículo) que mais lhe tenha falado ao coração, para ser levado durante todo o dia.
5. Ação (Actio): A Palavra de Deus apropriada passa depois para a vida prática, torna-se vida em minha vida e transforma meus atos.
A partir do que li, do que ouvi, meditei, ruminei, contemplei, me deixei penetrar pelo poder da Palavra. Começa a brotar no meu mais profundo, o desejo de seguir as Palavras da Virgem Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 1,5). A ação movida pela Palavra, consiste em fazer da mensagem a própria vida. É válido traçar propósitos claros e realistas dentro de intervalos de tempo razoáveis. A Palavra vivenciada dia após dia, a começar dos pequenos gestos, configura-nos a Jesus e faz-nos avançar no caminho da santidade.
Que possamos descobrir a importância da Sagrada Escritura em nossas vidas e a necessidade de nos deixar ser constantemente transformados na Palavra de Deus que é o Cristo. Amém.