Entramos mais uma vez no santo tempo da Quaresma. Quarenta dias que nos convidam a um mergulho interior, à escuta da Palavra e ao retorno sincero ao coração de Deus. Mas, afinal, o que significa converter-se? E mais ainda: como viver, de fato, a conversão?
Muitos pensam que converter-se é apenas mudar de atitude ou deixar de cometer determinados pecados. É verdade que a conversão começa com o arrependimento, mas não termina aí. A conversão cristã não é apenas um movimento de afastar-se do mal, mas, sobretudo, um movimento de aproximação de uma Pessoa: Jesus Cristo. Ser cristão não é realizar regras ou cumprir ritos — é seguir Jesus no cotidiano, nos gestos concretos, nas escolhas de cada dia.
Foi isso que entenderam os santos. Santo Agostinho, por exemplo, passou boa parte da vida buscando a verdade longe de Deus. Mas quando encontrou a Palavra, o Verbo de Deus, algo mudou em sua alma. Ele não quis apenas conhecer Jesus; ele desejou ser como Jesus – discípulo do Mestre. E esse desejo transformou sua vida por completo.
A Quaresma nos chama a esse mesmo caminho. Não basta confessar, jejuar ou praticar esmolas se nosso coração permanece fechado ao próximo, indiferente ao sofrimento alheio, ou preso à vaidade e à aparência. A pergunta que deve ecoar em nós é: estou realmente seguindo Cristo?
Seguir Cristo é perdoar como Ele perdoou, amar como Ele amou, servir como Ele serviu, viver com humildade, mansidão, obediência ao Pai e compaixão pelos pequenos. Não é fácil. Mas quem disse que o caminho da cruz seria fácil? A cruz é escolha. E a Quaresma nos obriga a escolher um lado: ou caminhamos com Jesus, ou nos acomodamos com o mundo.
O lado de Jesus é o lado do Evangelho vivido “sine glossa”. É o lado da justiça, da paz, da verdade. É o lado de quem acolhe o pecador sem compactuar com o pecado. É o lado de quem denuncia o mal, mas com misericórdia. É o lado de quem ama até o fim, mesmo quando é traído, caluniado ou crucificado. De quem não fica trancafiado em preconceitos.
Queremos uma Igreja santa? Comecemos por ser discípulos de Cristo. Padres, religiosos, bispos, leigos: todos somos chamados à santidade. E a santidade não é privilégio de poucos, mas vocação de todos. Santo Agostinho foi transformado porque deixou de admirar Jesus apenas com palavras e passou a segui-Lo nas ações. E você? Já escolheu de que lado está?
Nesta Quaresma, não percamos tempo com práticas vazias. Vivamos uma fé encarnada. Que o nosso jejum alimente os famintos. Que a nossa oração nos aproxime dos que sofrem. Que a nossa esmola seja discreta, mas eficaz. Que a nossa penitência nos torne mais parecidos com Cristo.
Porque, no fim, não será salvo quem mais cumpriu ritos, mas quem mais se assemelhou ao Filho de Deus.