Um caminho rumo à Páscoa com os pobres da Praça São Pedro

Um momento penitencial em vista da Páscoa é organizado para os moradores de rua que vivem na área do Vaticano ao redor da Praça São Pedro. A iniciativa é conduzida pelas Irmãs Claretianas, que há muito tempo se dedicam ao cuidado material e espiritual dessas pessoas. Muitas são as histórias de renascimento após o encontro com a Palavra de Deus.

Mesmo em meio às caixas de papelão reutilizadas, às camas improvisadas e à sujeira que pode ser vista à noite na Praça São Pedro, a força da Ressurreição de Jesus também se faz presente, com a mensagem de paz e esperança que não exclui ninguém, mas fortalece e reaviva os corações mais entristecidos. As religiosas claretianas realizam essa missão, animadas pelo seu carisma da paixão pela evangelização e da audácia missionária.

Caminho que leva à oração comum

Para chegar à iniciativa de hoje, é necessário voltar um pouco no tempo. Foi o que contou a Ir. Elaine Lombardi, das missionárias de Santo Antônio Maria Claret, que recorda que, anos atrás, na paróquia romana de Torresina, dedicada a Santa Faustina Kowalska da Divina Misericórdia, alguns jovens iniciaram um importante caminho que começou com a Lectio Divina e culminou com um forte desejo de ajudar o próximo, especialmente os mais necessitados. A experiência começou com uma xícara de chá e alguns biscoitos distribuídos, “não foi tanto o que demos”, explica a irmã brasileira, “mas foi a presença que fez a diferença”. A pandemia suspendeu todas as atividades, on-line, o grupo de jovens que participava da Lectio Divina aumentou para 100, ao mesmo tempo em que crescia a necessidade de oferecer aos pobres mais do que um chá, de modo que foi cogitada a possibilidade de um jantar. O dia escolhido foi a terça-feira, e são levados alimentos para cerca de 200 pessoas. Refeições, mas também oração, porque essa é a necessidade que os voluntários e as irmãs sentem que está crescendo: levar a Palavra de Vida aos mais frágeis. “Começamos sob a Colunata com a Novena de Natal”, conta a irmã Elaine, “no final, muitas pessoas pobres que moram lá nos pediram para continuar e nasceu o projeto Lectio Divina com os desabrigados uma vez por mês. Compartilhamos a Palavra de Deus, que na verdade se transforma em compartilhar nossas vidas, e o melhor é que muitos turistas também param e rezam conosco”.

Palavras simples

Ao nos aproximarmos da Páscoa, explica ir. Elaine, a escolha foi preparar momentos mais intensos e profundos, com uma oração penitencial. “Sempre começamos com a Palavra de Deus, seguida de um momento de oração. Geralmente tomamos o cuidado de não exagerar nas palavras, a escolha é seguir o caminho da simplicidade porque muitos moradores de rua que participam são estrangeiros, alguns não conhecem bem o italiano”. O ponto alto desse momento penitencial é o pedido de perdão pelos pecados. “A resposta dos pobres”, acrescenta a religiosa, “é sempre muito positiva, muitos vêm até nós para nos dizer que esses são momentos que lhes fazem bem, que os fazem sentir humanos. São momentos em que eles podem compartilhar a vida com aqueles que não conhecem, podem se sentir importantes, podem se sentir livres para falar. É uma reação muito bonita”.

“Não sei ler a Bíblia…”

“Existem experiências muito bonitas que pudemos conhecer”, conta emocionada irmã Eliane. “Um deles, Francesco, que tem uma trajetória de vida particular e mora na rua, começou a frequentar a Lectio Divina e estava em depressão por causa das dificuldades que enfrentava todos os dias. Certa vez, no final da oração, ele se aproximou de mim para pedir uma Bíblia e eu lhe dei a que eu tinha em mãos e que havíamos usado para a Lectio, que foi colocada no pequeno altar que fizemos com uma das malas dos pobres e os ornamentos que carregamos. Ele a pegou, mas na semana seguinte veio falar comigo para me dizer que não sabia ler”. Francesco encontrou uma pessoa que se importava com ele, que o ouvia e com quem se comunicava, por isso não hesitou em dizer à freira que os momentos de oração que vivenciou e a Palavra de Deus fizeram crescer nele o desejo de conhecer o Evangelho e, portanto, de aprender a ler. “Imediatamente tomamos providências e procuramos um lugar onde ele pudesse desenvolver esse desejo. Penso que isso seja muito bonito e me tocou profundamente”. A missionária claretiana continua dizendo que ouviu muitas outras histórias de sofrimento da vida que alguns corajosamente contam, explicando por que estão nas ruas, mas também o quanto a Palavra de Deus os ajuda em suas vidas diárias. Outro momento importante para a Irmã Elaine foi o encontro com o Papa em 24 de julho de 2023, no qual Francisco reafirmou que “a Igreja e o mundo de hoje precisam urgentemente do testemunho fiel e corajoso das vidas consagradas”. Palavras, diz a religiosa, que motivaram todos a continuar nesse caminho de encontro em torno da Palavra de Deus.


Informações: Vatican News