Vinde Espírito Santo

Na Solenidade de Pentecostes a liturgia convida-nos a olhar para o Espírito Santo e a tomar consciência da sua ação na Igreja e no mundo. Fonte inesgotável de Vida, o Espírito, transforma, renova, orienta, anima, fortalece, constrói comunidade, fomenta a unidade, transmite aos discípulos a força de se assumirem como arautos do Evangelho de Jesus.

Como cantamos na sequência desta Solenidade o Espírito santo é “Consolo que acalma”, o “descanso no labor”, o “remanso na aflição” e um “doce alívio” na dificuldade.

O Evangelho – Jo 20,19-23 – apresenta-nos a comunidade da Nova Aliança reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, renovada, a partir do dom do Espírito. Fortalecidos pelo Espírito que Jesus ressuscitado lhes transmite, os discípulos podem partir ao encontro do mundo para o transformar e renovar.

O Espírito Santo é o dom do Ressuscitado, não ofertado cinquenta dias após a Ressurreição, mas no dia mesmo da Páscoa. Com o sopro de Jesus (Jo 20, 22) o Espírito é doado – referência direta ao Livro de Gênesis, quando se diz que o Espírito pairava sobre as águas (Gn 1,2) –, de modo que agora, Ele mesmo é o princípio da nova criação. O sopro do Ressuscitado lembra o sopro de Deus no Gênesis – sopros que criam e recriam o ser humano. Com a presença do Espírito divino, nova humanidade surge de todos aqueles que se propõem seguir os passos de Jesus. O Espírito sopra contra os vendavais que destroem os valores cristãos e renova o espírito da caridade e da fraternidade.

Por isso, rezamos com o salmista: “enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai” (Sl 103).

Na primeira leitura – At 2,1-11 –, o autor dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos o Espírito Santo como a Lei Nova que orienta e anima o Povo da Nova Aliança. O Espírito faz com que homens e mulheres de todas as raças e culturas acolham a Boa Nova de Jesus e formem uma comunidade unida e fraterna, que fala a mesma língua, a do amor. A Igreja nasce “hoje” pelo envio do Espírito Santo. Em comunidade e em unidade, características fundamentais da Igreja, o Espírito Santo faz com que todos se entendam em suas próprias línguas, sem confusão ou dispersão – ao contrário do texto de Babel, proclamado na Vigília de Pentecostes. O Espírito Santo dá aos seguidores de Jesus a capacidade de proclamar o Evangelho nas línguas e culturas de cada povo; abre-nos a mente e o coração para compreender e acolher a mensagem de amor deixada pelo Mestre de Nazaré. A língua do Espírito Santo é o amor, que torna possível a unidade universal.

Na segunda leitura – 1Cor 12,3b-7.12-13 –, Paulo apresenta o Espírito como fonte de Vida para a comunidade cristã. É o Espírito que concede os dons que enriquecem a comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros. Por isso, os dons do Espírito não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de todos. Com o simbolismo do corpo e dos membros, reafirma-nos que devemos formar uma unidade a partir das diversidades existentes Os cristãos devem formar um só corpo; as diferenças existentes são dons e carismas dados a nós por Deus. A diversidade de dons é fruto do mesmo Espírito Santo: unidade do Espírito e diversidade de carismas. Os diversos dons e as várias manifestações do Espírito têm o Senhor como única fonte e são concedidos para serem postos a serviço da comunidade. Todos os cristãos, embora sejam diferentes por razões étnicas e culturais, formam o único corpo de Cristo, graças à ação do Espírito recebido pelo Batismo.

O Espírito Santo se manifesta por meio da comunidade reunida em oração e Cristo ressuscitado envia a Igreja em sua ação missionária, plantando, no coração do mundo, a palavra do Evangelho e a força amorosa de Deus. Peçamos os dons do Espírito Santo para a nossa vida. O sopro divino desce sobre nós e nos congrega na mesma fé e na mesma família, na alegria e na fraternidade, fortalecemos nossa missão como Igreja em percurso sinodal. Neste dia e sempre, suplicando Vem Espírito Divino, nos colocamos para sermos o sopro da fraternidade num mundo confuso e carente dos dons do Divino Espírito Santo!


Autor: Dom Anuar Battisti
Arcebispo emérito de Maringá (PR)
Fonte: CNBB