Com os seguintes versos de Dom Francisco de Aquino Corrêa, segundo arcebispo de Cuiabá e membro da Academia Brasileira de Letras, deixamos registrada nossa homenagem ao Brasil, por seus duzentos anos de Independência. O poema é de 1917. Ao fim, acrescentamos um breve glossário, para ajudar no entendimento do texto.
“Independência ou Morte”
À “Brigada Branca” dos Colégios Salesianos
Foi sobre a tarde, quando o sol declina,
Hora divina das contemplações,
Hora do Gólgota, sublime hora,
Marcada outrora para as redenções.
Deus decretara redimir a terra,
Que o nome encerra da sagrada Cruz,
E a um jovem príncipe entregou a espada
Dessa cruzada de infinita luz.
O herói passava, em seu ginete airoso [i],
Ao sol radioso, que esmaltava os céus:
O ideal fremia-lhe na fronte inquieta,
Era a silhueta de um estranho deus!
Tinha a seus pés, por pedestal, o outeiro
Alvissareiro do Ipiranga em flor:
E a brisa e as árvores e a onda flava [ii],
Tudo cantava de esperança e amor!
E quando ergueu aquele sabre de ouro,
E como estouro de vulcão fatal,
Rugiu nos céus: “Independência ou Morte”
Tinha no porte, um heroísmo ideal!
Responde ao grito, e, delirante, brada
A cavalgada, que nos fez nação;
E o luso tope, que algemava os braços,
Rola em pedaços no brasílio chão!
Entanto o grito: “Independência ou Morte!” [iii]
De sul a norte, num fulmíneo ecoar,
Livres bandeiras pelo azul desata,
Numa fragata lá transpõe o mar!
Desde o Itatiaia, que assoberba os ares,
Até Palmares, que repercute a voz:
Ouvem-na os manes dos fatais guerreiros [iv],
Dias, Negreiros e Poti feroz [v].
Sorri-lhe o espírito imortal de Anchieta,
Anjo e poeta, que o Senhor nos deu;
E, do além-túmulo, como que suspira
A infausta lira do gentil Dirceu [vi].
Brota de tudo, e se ouve um hino ardente,
Ardentemente, pelo azul cantar,
Um como hino de Natal que erra,
Do céu à terra, e da montanha ao mar!
E qual Andrômeda, sorrindo agora,
À voz canora do novel Perseu [vii],
Tal surge a Pátria do Cruzeiro lindo,
Livre, sorrindo, para o azul do céu!
Sublime grito: “Independência ou Morte!”
Que o jugo forte do opressor destróis!
Da liberdade és o fatal dilema,
O eterno lema de um país de heróis!
Não és o grito da anarquia infame,
Que espuma e brame, contra Deus e o rei;
Tu és o cântico da liberdade,
Que não evade os muralhões da lei!
Tu és um raio dessa Cruz bendita,
Que além palpita, em nossos puros céus;
És o diadema de uma Pátria ingente,
Que, livre e crente, só se humilha a Deus!