No dia 8 de setembro, celebramos a festa litúrgica da Natividade da Santíssima Virgem Maria. Acontece nesta data porque, nove meses antes, no dia 8 de dezembro, celebramos a solenidade da Imaculada Conceição. A Igreja Católica se enche de alegria e esperança, porque veio ao mundo a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Virgem de Maria é a aurora resplandecente que surgiu na plenitude dos tempos (cf. 4, 4), prenunciando a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sol da Justiça (cf. Ml, 3, 20).
A Natividade de Maria como convite à alegria
São João Paulo II afirmou, em uma homilia, que a festa da Natividade de Maria é um “convite à alegria, exatamente porque, com o nascimento de Maria Santíssima, Deus deu ao mundo quase a garantia concreta da salvação estar já iminente: a humanidade […] podia finalmente olhar, comovida e vacilante, para Maria ‘Criancinha’, que era o ponto de convergência e de chegada de um conjunto de promessas divinas, que tinham encontrado eco misteriosamente no coração mesmo da história”.
Segundo o Santo Padre, é exatamente esta Menina, ainda pequenina e frágil, a “Mulher” do primeiro anúncio da Redenção futura, contraposta por Deus à serpente tentadora: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3, 15).
É também precisamente esta Menininha a “Virgem” que “(…)conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco” (Mt 1, 23; cf. Is 7, 14). Será também esta pequena Criança que será a “Mãe” que dará à luz em Belém aquele que deve ser o Senhor de Israel (cf. Mq 5, 1 s).
Divina complacência de Maria
A Igreja toda não pode hoje deixar de alegrar-se ao celebrar a festa da Natividade de Nossa Senhora, que — segundo afirma São João Damasceno com palavras comoventes —, é aquela “porta virginal e divina, da qual e através da qual, Deus, que está acima de todas as coisas, está para fazer o Seu ingresso na terra corporalmente”.
[…] Hoje, brotou um rebento do tronco de Jessé, do qual nascerá para o mundo uma Flor substancialmente unida à divindade. Hoje, sobre a terra, da natureza terrestre, Aquele — que em tempos separou o firmamento e as águas e o elevou ao alto — criou um céu, e este céu é divinamente muito mais esplêndido que o primeiro”.
Maria, predestinada, santificada e glorificada
A Liturgia da festa da Natividade aplica a Maria a passagem da Carta aos Romanos, em que São Paulo descreve o plano misericordioso de Deus relativamente aos eleitos: Maria é a predestinada por excelência pela Santíssima Trindade para uma altíssima missão. Ela é chamada, santificada e glorificada para ser Mãe do Verbo de Deus encarnado, a fim de que este seja o Primogênito de uma multidão de irmãos (cf. Mt 8, 28-30).
Deus predestinou a Virgem Maria para estar intimamente associada à vida e à obra do seu Filho, Jesus Cristo. Por isso, santificou-a de maneira admirável e singular, desde o primeiro momento da sua Conceição Imaculada, constituindo-a “cheia de graça” (cf. Lc 1, 28); “tornou-a conforme à imagem do Seu Filho: conformidade que, podemos dizer, foi única, porque Maria foi a primeira e a mais perfeita discípula do Filho”.
O desígnio de Deus em Nossa Senhora culminou na glorificação. Tornou o seu corpo mortal conforme ao corpo glorioso de Jesus ressuscitado. A assunção de Maria ao céu, em corpo e alma, representa a última etapa da vida desta Criatura predestinada. Na qual o Pai celeste manifestou, de maneira exaltante, a Sua divina complacência.
Nossa Senhora, modelo concedido por Deus
Olhar para Maria significa vislumbrar o modelo que o próprio Deus nos concedeu para a nossa elevação e nossa santificação. Nossa Senhora, hoje, nos ensina primeiramente a conservar intacta a fé em Deus. Aquela fé que nos foi dada no Batismo. E deve continuamente crescer e chegar à maturidade em nós, nas várias etapas da nossa vida cristã.
Comentando as palavras de São Lucas (cf. Lc 2, 19), Santo Ambrósio assim se exprime: “Reconheçamos em tudo o pudor da Virgem Santa, que, intemerata no corpo não menos que nas palavras, meditava no seu coração os argumentos da fé”. Também nós, exorta-nos São João Paulo II, “devemos continuamente meditar no nosso coração ‘os argumentos da fé’, isto é, devemos estar abertos e disponíveis à Palavra de Deus, para fazer que a nossa vida quotidiana — a nível pessoal, familiar e profissional —, esteja sempre em perfeita sintonia e em harmoniosa coerência com a mensagem de Jesus, com o ensinamento da Igreja e com os exemplos dos Santos”.
Nossa Senhora, a Virgem-Mãe, reafirma hoje, a todos nós, mas especialmente às mulheres, o valor altíssimo da mulher, da maternidade, glória e alegria da mulher, e também da virgindade cristã, professada e acolhida em vista do Reino dos Céus (cf. Mt 19, 12), isto é, como um testemunho, na caducidade do mundo, daquele mundo final, em que os salvos serão como os anjos de Deus (cf. Mt 22, 30).
Oração de São João Paulo II a Nossa Senhora da Natividade
“Ó Virgem nascente, esperança e aurora de salvação para o mundo inteiro, volve benigna o teu olhar materno para nós todos, aqui reunidos para celebrar e proclamar as tuas glórias.
Ó Virgem fiel, que sempre estiveste pronta e solicita para acolher, conservar e meditar a Palavra de Deus, faz que também nós, no meio das dramáticas alternativas da história, saibamos manter sempre intacta a nossa fé cristã, tesouro que nos foi transmitido pelos antepassados.
Ó Virgem poderosa, que esmagas com o teu pé a cabeça da serpente tentadora, faz que, dia após dia, cumpramos as nossas promessas batismais, renunciando a Satanás, às suas obras e às suas seduções, e saibamos dar ao mundo alegre testemunho da esperança cristã.
Ó Virgem clemente, que sempre abriste o teu coração maternal às invocações da humanidade, às vezes dividida pelo desamor e também, infelizmente, pelo ódio e pela guerra, faz que saibamos sempre crescer todos, segundo o ensinamento do teu Filho, na unidade e na paz, para sermos dignos filhos do único Pai celestial.
Amém!”.