Completai em mim a obra começada; ó Senhor, vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada esta obra que fizeram vossas mãos” Salmo 137(138).
No mês de Agosto de 2013, Nosso Senhor deu-me este versículo bíblico como uma promessa a respeito da minha vocação sacerdotal. Fiei-me nesta palavra com muita segurança, e procurei desde então corresponder a este chamado. Ao longo do caminho, vivenciei inúmeras situações, para que fosse forjado em mim o caráter de Cristo, dando-me condições de exercer na Igreja, e de um modo particular no Carisma da Comunidade Presença, o ministério sacerdotal. Diante de cada momento esta palavra de Nosso Senhor me sustentou, e quando por alguma maneira eu a esquecia, Ele tratava de torna-la presente.
O Senhor completou a primeira etapa da obra. Tornei-me sacerdote para sempre em Abril de 2022, com o lema “Aquele que usou de misericórdia”. Este lema está ligado a forma com que Deus utilizou para me formar sacerdote. Sou obra da misericórdia divina. Desde a minha ordenação outra etapa desta construção está em andamento. O versículo que inspirara a minha resposta inicial continua ressoando em meu coração. Existe ainda muito a ser feito em minha alma, para que eu seja um padre configurado a Cristo.
Por outro lado, percebo neste pequeno tempo de ministério, algumas graças que já despontam em minha vida, fruto desta confiança no Senhor que inicia e completa a obra. Quero testemunhar que Cristo nos dá o seu olhar. Sim, ver como Cristo as pessoas e as situações. Enxergar o que para todos os outros não é perceptível é uma graça do ministério sacerdotal. Testemunho também que Cristo se usa de nós para demonstrar a paternidade de Deus. O sentimento presente é este: sou pai, sinto-me responsável pelas pessoas.
Sou testemunha de que a palavra do sacerdote tem um peso muito grande sobre os fiéis. Enquanto padre posso interferir no rumo da vida de muitos que pedem aconselhamentos. Eles os pedem porque sabem que o sacerdote está intimamente ligado a Cristo. Sou testemunha também de milagres, de conversões, de corações arrependidos por seus pecados.
Compreendi neste primeiro ano de vida sacerdotal que ser padre é muito mais que saber preparar e fazer uma boa homilia. A homilia tem sido um grande instrumento na minha vida para evangelizar e conduzir as pessoas para a verdade. Mas ser sacerdote exige muito mais que saber comunicar o evangelho através da pregação. Existe uma responsabilidade enorme no exercício do ministério. Todas as nossas ações são em Cristo, por Cristo e com Cristo. Este mistério tem um impacto forte, e nos responsabiliza diante de cada atitude, comportamento, comentário, etc. Embora isso tenha um certo peso, trata-se de um peso leve e suave, pois antes de ser meu, é de Cristo.
Tenho a graça de viver o meu ministério como membro de uma comunidade de vida. Este cenário muda muitas coisas. Abre muitas possibilidades, e me priva de outras. Testemunho que a vida nestes moldes, tem contribuído para que eu seja mais semelhante a Cristo na pobreza, na obediência e na castidade. A vida fraterna constantemente me recorda que sou irmão e filho, antes de Padre. Trata-se de um contra ponto na minha vocação. Sou sacerdote do Altíssimo pela imposição das mãos do Bispo, mas sou também filho do Altíssimo pelo santo Batismo, pelo qual me torno irmão de todos os batizados e consciente da filiação divina. Esta é a vocação primordial e é dela que decorre o meu ministério sacerdotal. A vida num carisma particular me recorda esta verdade o tempo inteiro.
Sou grato a Deus pelo chamado, testemunho finalmente que experimento uma alegria inefável servindo ao Senhor neste ministério. Há uma presença de Cristo em mim e comigo o tempo inteiro. Ele está próximo, e o experimento cotidianamente. Mais do que nunca, posso dizer com toda certeza: vocação acertada é vida feliz, mas não sem cruz!
Graça e Paz
Padre Tiago Borges