O nascimento de Jesus foi a superação dos muros existentes entre o divino e o humano. É o esvaziamento de Deus e a elevação da pessoa humana, dos vulneráveis, órfãos e abandonados. Ele vem como dom de Deus para toda a humanidade e é portador da verdadeira paz. Com Ele, é contrassenso pensar em divisões, guerras, ódio e sofrimento. Sua vinda confirma o amor do Pai pelos filhos.
O contexto de tudo isto tem dimensão familiar. Deus se manifestou ao mundo como família. A Família de Nazaré é modelo para todas as famílias, porque aí está o espaço de serviço e doação ao outro. Serviço dos pais para com os filhos, e dos filhos mais idosos, para com os pais. São gestos que expressam a prática concreta do amor. Isto acontece também no serviço à sociedade.
O gesto de doação é uma forma de se viver com sabedoria a riqueza da vida familiar, mas como busca diária da suprema bondade de Deus. Essa realidade, para seu cumprimento, supõe caminho de escolha, de cumprimento dos princípios norteadores da conduta de vida, de apoio nos valores da tradição, adaptados para os dias atuais. Entre esses valores está a identidade religiosa e cultural.
Existe muita sensibilidade em relação às necessidades dos outros. Significa que o gesto de doação acontece. Mas não basta só isto, porque a fome está presente na vida dos povos. Não é porque falta alimento no mundo. O que falta de verdade é a partilha de bens por parte dos detentores das riquezas. Essa prática dificulta o entendimento de que formamos uma grande família no planeta.
É fundamental ter os olhos fixos em Jesus Cristo para se ter a dimensão do sentido da partilha e da doação. Doar a própria vida, os dons, as virtudes, a capacidade de relacionamento e o bolso. Talvez o último seja desafiante para muitas pessoas apegadas aos bens materiais, ao acúmulo fora dos padrões da vida humana, principalmente acúmulo sem a prática da função social.
Para cumprir a Lei antiga, José e Maria foram apresentar Jesus no templo e ali era feito um ritual de purificação. Não passava de um gesto de doação de algum animal para o sacrifício que, para as pessoas pobres, poderia ser um simples par de rolinhas. Quem tinha melhor condição econômica, doava uma vítima de maior valor. A família estava atenta aos apelos de Deus. Como são as famílias hoje?
Por: Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)
Fonte: CNBB